Pentecostes em abril - visto do arco da rua augusta

Não esperamos cinquenta dias.
Urgia que fosse feita a comemoração e ainda não tinhas subido aos céus pois querias fazer parte da festa.
Sabias que precisávamos de ânimo e a nós te juntaste e deste a volta à história.
Eu subi lá acima, queria ver melhor e vi-te cá em baixo entre os demais. 
Será que partes de novo? Sei que queres continuar os ensinamentos. Receio que nos faltem as forças e não consigamos acompanhar.
É preciso lutar. É preciso mudar. É preciso continuar.
Levantaste-te nem faz uma semana e assim se decidiu antecipar este Pentecostes e trocar as voltas ao estabelecido.
Trouxeste então a chama como derradeira luz de esperança nesta festa antecipada.
Fizemo-la não no sétimo dia depois da tua ascensão, mas quase ao sétimo da tua ressurreição.
Da praça se fez o cenáculo e éramos todos discípulos. Assim o percebemos, assim o recebemos. 
E o festival da colheita rubra, fez descer do céu línguas de chama em corpo de cravos em sangue que desciam até nós mitigando com a sua luz os nossos espíritos esfomeados de justiça.
Do cenáculo transportado para todas as almas de um tempo de novo sombrio chegava a voz do exército, no apelo aos mandamentos para devolver  esperança em tempo do êxodo.
Pentecostes em tempo antecipado, o espírito que dará o dom das línguas que vestirão um novo discurso, a nova força que marcará de certo o nascimento do movimento pentecostal.
O que nasceu quando os cravos vieram do céu.

no 11 de abril o que viram os meus olhos


Eis-me aqui na partilha deste momento que fizeste questão de dizer que o tornaste possível para nos poder proporcionar.
Só o fazias por nós. Assim era para ti, mais nosso do que teu.
Para ele estava já conquistado mesmo sem a comemoração.
Todo aquele cerimonial era-nos carinhosamente oferecido.
Cuidei para que estivesse bem à tua altura, disse-to. Resmungaste carinhosamente qualquer coisa como; “Deixe-se disso, mãe”.
Caminhamos quase nervosamente para a catedral e no átrio encontramos já alguns pares que cumprimentaste quase cerimoniosamente e me prestaram a igual e devida vénia.
Percorremos as galerias cruzando-nos com um cem número de quadros negros resplandecentes de júbilo que iluminavam o espaço e que em breve se nos juntaram na enorme nave prontos para assistir ao ofício diante do coro onde doutos haviam já tomado o lugar no altar-mor e iniciavam a celebração.
Houve ainda espaço para cumprimentos entre os quadros e profundos negros, antes do canto litúrgico sob a forma de ritual formal elaborado.
Chegado o momento central da celebração a liturgia deu lugar à consagração onde chamados um a um os 253 vultos juraram o compromisso da sua honra diante dos cerca de 600 fiéis, familiares e amigos, onde se assistia à transubstanciação do esforço e sonho no corpo do documento agora entregue.
Vibramos no clamor e no brilho do momento, vestimos todos a veste negra que nos abraçava no conforto do veludo macio da noite mais calorosa.
Em mim a invadir-me aquela forte sensação do abraço da vida a premiar-me. Sentido de dever cumprido? Não é bem isso. Isso dito assim parece-me mais um fim de caminho, e está longe de o ser.
Apaziguava-nos o destino feito fato à medida do sonho, executado no rigor do estreito cumprimento das tuas directrizes.
- Fica-te bem filho, usa-o com a devida cerimónia.

sábado de família


O sábado trouxe o aconchego da família desta vez na nossa casa.

Esbanjou, encheu e preencheu de brilhos em formas de sorrisos a pintalgar em ritmo de sembas todas as paredes, que deixaram as marcas que me vão bastar e fazer a conversa de todos os mugimos que surgirem até ao próximo encontro.

O telhado ficou baixinho a acariciar-nos as cabeças feito protetor e pai gerador do quente da barriga daquela sala que cresceu para acolher todos e alargou as ancas para fazer até quintal de todo o resto da casa onde corriam os candengues, já vindos dos mais novos da última linha.

Estávamos de novo a partilhar as últimas.

O filho que regressou, a mana que se espalhou, a sobrinha que alcançou.

- Podem mesmo abrir os sorrisos sim, é por graça mesmo, mas vou traduzir;

O filho não aguentou a distância e atirou-se para os braços do incerto na firmeza da coragem que determina a certeza rodeada dos afetos lhe fará superar a dureza da distância.

Isso mesmo!

A mana apanhou piso molhado e levou um susto daqueles que lhe fez esconder o episódio mais de uma semana, que lhe revirou o carro, e lhe fez ver de repente o mundo virado ao contrário, ainda para acrescentar que estava com o bebé e a cena tomava assim proporções de gelar os trópicos.

- Assim resolveu só contar agora, para não preocupar.

A sobrinha alcançou, já tínhamos mesmo brindado, só que agora, com as costuras a já não aguentar o tamanho, do mais novo anunciado, foi de novo motivo de alegria e de renovação de brindes a cada instante de só olhar.

- Eram os momentos do saber da continuidade!

A falta de alguns, justificada pelos motivos que só davam alegrias aos restantes, fazia assim deles igualmente presentes.

O almoço era reconforto, bagre trazido do sul a aquecer a mesa, pipis bem apurados, calulú acanhado um pouco mal sucedido no olhar de que se habitua a vê-lo instalado a nos grandes tachos costumeiros que agora não podiam estar.

O remate estava nos doces de cada especialista que sabe de cor a matéria de que são feitos os gostos de cada um.

O resto era o não caber de alegria e do prazer da comunhão

Sábado de família, desta vez o telhado quente a acariciar as nossas cabeças nestes nossos momentos, certos do calor do legado que preservamos.

 
sabe-me a sal
a onda em cada sulco de pele de alento onde me aquieto

sabe-me a sol
a planície dourada do extenso e morno areal onde me deito

sabe-me a mar
a paz que bebo na tua cama de aconchego
Porque te estranho quando as tuas escolhas
Se sentam na casa grande do amor?

Porque me espanto quando me falas
do colo grande do amor onde cabem destinos
e onde todas as perguntas encontram resposta

Ergo o meu olhar até ao topo do mundo que persegues
Onde queres viver rodeado saciado de afectos
Ventre imenso de amor por onde conduzi os teus passos

E sigo as tuas asas