manto carmim

Caminho pela passadeira pintada de acácias vermelhas,
que se colam aos pés na minha passagem.
Carrego-te manto carmim e tu pesado de lutas velhas,
arrastas-te e tinges de pétalas o meu chão nesta viagem.

Já não me podes proteger, dos gritos e golpes das feras que vêm de fora
Cá dentro já ninguém mora

Estou seca pois já não consegues reter as águas das chuvas que bebi
Tenho frio e já não temperas o lume da terra que ontem acendi
Tenho fome e já não seguras o mel dos tempos que vivi

Ardo em febre e já não me refrescas com o teu sopro de vida,
Cá dentro já ninguém mora

Tão só um corpo vazio deambula já quase incapaz de respirar
claudica e se arrasta pela estrada de tinta rubra, já sem querer se desviar

Ficará apenas a longa veste de pele arrancada do corpo de vida retida,
pelas pedras e espinhos de uma vereda sem fim
E em breve secarás manto carmim
E ao colo do vento em escamas de folhas secas te desprenderás enfim

Porque agora,
Cá dentro já ninguém mora
Apenas vive o fim que vem de mim

Abdullah Ibrahim Trio - Leverkusen 2007 (2/2)

MIRIAM MAKEBA & NINA SIMONE Thulasizwe / I Shall Be Released