pintar um futuro

Seguro um capítulo inteiro temperado de dor
Empapado na torrente de lágrimas cansadas de resistir
Aperto com raiva o papel feito em pedaços de mim
e amasso com raiva a pasta quente de sonho desfeito
Nesta noite penosa e dolente que teima não ter fim

Decido então moldar uma tela e pintar um futuro
Junto ao corpo macio molhado de goma de sangue de acácia
um punhado de manta de terra fria de base de cor,
e um pedaço de pano de céu guardado em segredo,
que esconde pó de estrelas a esgueirar-se pelas dobras de dor

E em pinceladas de sorrisos paridos de esperança
Vibram cores que fazem pulsar vida prenhe de loucura
E o vivo brilho de cetim abraça a terra e faz-se quente
Os cristais de sal emergem em ondulações de luares
Arrastados num compasso melódico de novas cadências
Espatulados de notas cambiantes de novos mares
E faz-se dia.