espero por mim esta noite

No sossego da noite longa da saudade
A brisa leve e fresca invade o meu luar
E o morno lento dum aconchego de verdade
Traz-me de novo e me acolhe devagar

De mansinho, encontro o espaço de pertença
Percorro os meus recantos docemente
Fecho os olhos e dedilho longamente
os acordes que preenchem a minha crença

A doce e calma espera de me ter
Liberta o fado feitiço da vontade
E força a força de me ver
Na escolha deste espaço de verdade

E desata em mim a força de vingar
Desarma enfim a forma de ficar
Acorda em mim a sede de existir
Avança enfim a escolha de partir

Deslizo pelo manto escuro que fiz meu
Sabe-me bem o sossego longo que sou eu
Na forma de habitar neste espaço de vazio
Feita força bruta em que me crio
Espero por mim esta noite

Num recado do coração vim vestida qual cometa

Num recado mudo do coração
Vejo-me pertencer a um corpo menor
Que orbita solitário na estrela maior

E sei que aqui só passarei uma vez

Exibindo a minha cabeleira vasta
Sou corpo frio a dizer basta
Venho da nuvem de Oort para além do Cinturão

Atirado do sistema para o lume
Por vários que se guerreiam pelo espaço
Depressa se faz perto a grande estrela

E aqui só passarei uma vez

Venho qual bola de gelo sujo, assim dirá
Vestindo cousas menores, própria poeira
Sigo cada vez mais perto da grande estrela

E mesmo por imposição
Bem por força da radiação
É do lado oposto que se forma
Oponente ao grande fogo, enorme cauda
Para que da terra se veja pela norma
A de luz que eu meneio, vistosa lauda

E qual cometa
Ainda que aqui só passe desta vez eu vos direi

Que é à vista desarmada que se veja
Por tempo longo e demorado, assim seja,
Como cabe ser, antes da morte
Serei luz, na minha veste em espectro vibrante
Emanada deste corpo frio e distante
Ser brilhante e notável como os Grandes, coube a sorte

Num recado mudo do coração
Do frio fruirá o fogo ainda que fátuo
Não, eu não abrirei mão