Quando eu chegar

Quando eu chegar
Pousarei meus lábios docemente em cada flor
banharei meus olhos em cada luz e acalmarei a dor
Deixar-me-ei levar

Quando eu chegar
Sem pressa de chegar
Vou deixar-me arrebatar

E gingarei em esteiras a doçura do amor
provarei sabores e doces licores
cheiros intensos e mostos de cor
maruvos marimbas rebitas tambores

Quando eu chegar
sem pressa de chegar
deixar-me-ei levar

vou sentar-me à tua espera sem esperar

vou sentar-me à tua espera,
enquanto saboreio a madrugada
e caminho docemente embriagada
pelo sossego macio ameno e lento
dos sons de festim do meu silêncio.

vou sentar-me à tua espera,
e deixar que os fios de brisa
de liras de prata brilhante,
deslizem cadentes e ondulantes
e na volúpia de uma dança inebriante
penteiem longamente os meus cabelos
num sussurro acariciador,

e que me falem ao ouvido
quase em murmúrio, qual Alceu à pura Safo,
de violetas coroada e de suave sorriso,
me tragam novas de ti, meu doce abafo
em toadas de odes ao amor.

vou sentar-me à tua espera sem esperar

enquanto a noite quente me abraça
me acaricia o corpo devagar
em arranjos de cores e andamentos
num sofrer de gozo dos momentos
de Átis doce e amargo tormento
mistos de veludos de luar

vou sentar-me à tua espera
por de não ter que te esperar
vou sentar-me à tua espera
certa que não precisas de chegar