Quando eu chegar

Quando eu chegar
Pousarei meus lábios docemente em cada flor
banharei meus olhos em cada luz e acalmarei a dor
Deixar-me-ei levar

Quando eu chegar
Sem pressa de chegar
Vou deixar-me arrebatar

E gingarei em esteiras a doçura do amor
provarei sabores e doces licores
cheiros intensos e mostos de cor
maruvos marimbas rebitas tambores

Quando eu chegar
sem pressa de chegar
deixar-me-ei levar

vou sentar-me à tua espera sem esperar

vou sentar-me à tua espera,
enquanto saboreio a madrugada
e caminho docemente embriagada
pelo sossego macio ameno e lento
dos sons de festim do meu silêncio.

vou sentar-me à tua espera,
e deixar que os fios de brisa
de liras de prata brilhante,
deslizem cadentes e ondulantes
e na volúpia de uma dança inebriante
penteiem longamente os meus cabelos
num sussurro acariciador,

e que me falem ao ouvido
quase em murmúrio, qual Alceu à pura Safo,
de violetas coroada e de suave sorriso,
me tragam novas de ti, meu doce abafo
em toadas de odes ao amor.

vou sentar-me à tua espera sem esperar

enquanto a noite quente me abraça
me acaricia o corpo devagar
em arranjos de cores e andamentos
num sofrer de gozo dos momentos
de Átis doce e amargo tormento
mistos de veludos de luar

vou sentar-me à tua espera
por de não ter que te esperar
vou sentar-me à tua espera
certa que não precisas de chegar

bailemos homens, bailemos!

http://www.advocatus.pt/opiniao/3957

Não sendo taxa mas imposto
É justo certo e suposto
Que estamos a ser roubados

Ou estamos nós enganados,
Ou muitas gentes de fé
Com ar certo e circunspecto
Ou nos faltam ao respeito
Ou nos tocam pela ré

Levantaremos a âncora?
Fazemos um finca pé?
Ou deixamos os bastardos
Fazer de nós gato e sapato
E gozar em cada acto
Tudo sempre de boa fé…

Fiquemos pelo acordo não é?…
Somos um povo sereno
Gente de boa fé
Bailemos homens, bailemos!

certezas

...
Quando embriagada com certezas de ti
fico sóbria das loucuras de mim

Mas...
Embora embriagada com loucuras de ti,
Estou sóbria com certezas de mim

ditando os sete mortais

Espreito as Origens Sagradas de Coisas Profundas,
Com o devido respeito que conste, nada têm de profanas,
Pois no vale desafortunado de artes imundas,
Cabe segundo Evágrio, oito crimes de "paixões" humanas.

Eleitas em ordem crescente de importância,
Por propostos juízes de circunstância,
Então se acharam indecisas de certeza e relevância.

Assim, se acercaram vários, tomados de elevação
Julgando que do ponto dos pecados, o julgo tornava piores
Quando roçando a soberba, se tornavam males maiores.
Abraçando cousa outra vestida de maldição.

Eis que entra Gregório,
E em carácter rescisório,
Troca acídia por inveja,
E para que se veja,
muda a ordem sim senhor,
Em nome dos que em entender, menos ofendiam o amor.

Por acrescento ainda, e sem qualquer veleidade
Acima-lhe em topo o orgulho, a vaidade,
Soberba por assim dizer, como arte de mal maior

Junta-se por final Aquino
Com rores de tratados e desvelo
Somando a preguiça em conta, por apelo
Fica-se então à cautela, pelos sete por destino.

Pois das piores doenças de Evágrio, o que conta,
Noutras artes de melhor dizer males e horrores,
São os opostos aos sete, os de virtudes de igual monta
Pela salvação dos pecadores

para vós

Para vós,
Eu ditarei a luz sobre as trevas
Acalmarei os ventos e sossegarei caminhos
Lavarei feridas de calvários e tormentas em pés de viandantes
Abraçarei coragens, loucuras e sentidos de vontade
Alargarei espíritos, vencerei destinos, mudarei sortes e fados
Ditarei a vida de venturas e fortunas

Serei Deus, demónio, gigante e demiurgo
Jogarei o mundo com perícia de toques certeiros
Para vós serei a terra, o céu, o dia, a noite, chuva e vento
O manto o chão a teia o consolo o vosso alento
A esperança e a fé a tempo inteiro
Serei tudo o que quiserdes

Para vós,
Arrebatarei o sol que esbanjarei em torrentes de cor
Pintarei o espaço de veludos de luares
Serei espaço, o corpo o tempo e a vontade
Plantarei pilares erguerei céus sobre os vossos sonhos
Serei Deus, demónio, gigante e demiurgo
E vencerei mundos para vós.

as franjas de purpurina da orla da minha saia

as franjas de purpurina da orla da minha saia
deixam riscos de sol no soalho
e deixam confusos os deuses que ditam as horas felizes
que não batem certo com as horas corridas a eito
que bailam nos brilhos de purpurina da orla da minha saia

não façam fé não tomem a peito
que de qualquer jeito
os rasgos dourados em rios de fés
saídos das sombras de quaisquer convés
que espreitam sorrisos, requebros de corpo e sopros trinados,
abrirão caminho por entre os escolhos
e do passo marcado, ao ébrio volteio, voltas, enlaces treinados,
encherão os espaços vazios trajando as vestes de outras marés

nas franjas de purpurina da orla da minha saia
os riscos de sol do soalho brindarão aos deuses as horas felizes