Só me resta ficar sentada a bordar

Só me resta ficar sentada a bordar
No consolo que Matiz não tem urdidura e é em forma repartida
Descoso pacientemente, penas e agruras de matizes escuras
Seguro com firmeza delicada o pano de vida
Deixo deslizar entre os dedos os fios de luz de esperança
E quedo-me enfim.
Só me resta ficar sentada a bordar
Temperos de luz feitos de pontos que inventarei para mim
O Arrendado farei, extraindo, descarnando, fios no tecido
Quer na vertical, quer na horizontal.
Tudo bem contado, buracos formados,
Prendo-os bem presos com a minha linha de bordar.
Ainda preso nos dois lados finco a linha e avanço Escada
Enquanto isso segurarei , Corda é muito simples
É na base da partilha do mesmo buraco
em que acabo o ponto anterior.
Acabada corda posso ir Atraz,
Nem mais, nem menos, o avesso da corda.
Ponto a ponto em relevo pela “urdidura”,
e concluo com uma cobertura, o relevo de Bastido
Sofrido, dorido qual colóide na pele.
Chego ao Chão, sem relevo uma vez que não “urdido”
Aqui o preenchimento é unido chegando aos pontos longos
Como passos que se encontram numa posição oblíqua.
E passo daqui para as Folhas Abertas e Fechadas
Então posso escolher e fazer a divisão
Em abertas e fechadas
Nas abertas, chego-lhe o arremate com cordão no rebordo.
Nas fechadas, uma vez urdidas e fechadas, acho o feito.
Entro assim na Sombra,
E pelo avesso dou-lhe o efeito
Só vindo Atraz para as extremidades.
Só me resta ficar sentada a bordar
No consolo que Matiz não tem urdidura e é em forma repartida.