apetece-me falar-te pai

Parece que tinha que ser mesmo hoje pai.
Sabes pai, acredita que és mesmo o responsável por esta viagem.
Às vezes apetece-me falar-te, sabias?
Do muito que tens visto, que eu sei que me vais acompanhando.
Da mãe com aquela força que conheces bem.
Dos manos que vão estando sempre por perto
Sabes que a pequenina leva a letra o recado que lhe deixaste,
e não me tem largado um único momento...
Também não era preciso dares assim tamanha responsabilidade...
Enfim, tu sabias bem o que lhes estavas a pedir, tu sabias pai.
Não tem sido fácil, mas temo-nos aguentado.
As coisas que eu estou para aqui a dizer...
como se não soubesses de tudo.
Claro que sim pai, eu sei.
Também, na realidade não tivemos tempo para grandes despedidas.
Mas acreditas, que embora no último momento me tivesse agarrado a ti
quase num desespero em forma de grito surdo que me tomou o corpo, a voz e a mente
só travado pelo coro de vozes de mais velhos que me chegou em surdina
numa quase súplica de um deixa-o partir...
te vi caminhar assim, serenamente em direcção à luz,
foi assim pai que te deixei seguir...
faz tanto tempo e tão pouco...
Olha que me têm perguntado, e sabes o que sinto
e que respondo com a sensação que nos deixaste
Que de todas as tuas viagens pai,
na nossa nada ficou por fazer,
nada ficou por dizer, deixaste-nos tudo o que poderias deixar.
Obrigada pai, sinto-te tão perto...
Amo-te tanto... que dói.