sentindo o CÍRCULO de Alda

Círculo
todo o caminho é belo se cumprido.
ficar no meio é que é perder o sonho.
é deixá-lo apodrecer, no resumido
círculo, da angústia e do abandono.

é ir de mãos abertas, mas vazias,
de coração completo, mas chagado.
é ter o sol a arder dentro de nós,
cercado,
por grades infindas…

culpa de quem, se fiz o que podia,
na hora dos descantes
e das lidas?

ah! ninguém diga que foi minha!
Ah! ninguém diga…

minha a culpa,
de ter dentro do peito,
tantas vidas!...

Alda Lara

Parabéns filho

Hoje já arranquei a folha cinzenta que cobria o céu
E para meu espanto até ela se riu mesmo amachucada
Quando no cesto se viu colorida
Com os restos de tinta que sobraram da festa de cores
Que preparei para ti
Já podes abrir os olhos e ver o sorriso rasgado do sol
Que inventei só para ti
A tela de festa de risos, abraços, balanço e compasso
Feita só para ti.
E a mescla de cores, tons e sons que compus
Feita de cheiros rubros
em trilhos verdes de chão com brilhos de azuis de oceano
Ao teu inteiro dispor
Tocarão a mais bela sinfonia neste teu dia
Que escolhi só para ti
Parabéns meu amor

Ainda te sinto no quente do colo
Mas o teu ombro seguro lembra-me que já caminhas a meu lado
Obrigada, meu amor.
Orgulho-me de ti.

Amanhã é dia de ir ao "fotógrafo"

Amanhã é dia de ir ao "fotógrafo" do IPO. Vamos ver como me saio na fotografia. A anterior tinha sombra... tenho mesmo que repetir. Estou a esmerar-me para me sair bem! Depois aguardo a crítica dos "comentadores". Espero em breve poder voltar ao relvado. Estou um pouco farta de nem conseguir estar no banco... quero ser convocada! Também ainda nem consigo sequer fazer o aquecimento... não estou mesmo preparada... tenho que esperar.

obrigada aos meus amigos

sabem que na vida se vai construindo devarinho muros bem sólidos.
sinto que já fiz uma boa parte a avaliar pelos muitos tijolos a que me agarrei nessa altura e que foram chegando espontâneamente.
obrigada a todos
não tenho braços pra abraçar este muro
mas juro foi ele que me segurou

em branco

descobri depois
só mesmo há uns quatro dias enquanto falávamos daquele dia fatídico em que fui a uma urgência e depois tive de seguir para outro hospital
descobri que tinha feito um intervalo...
estranhamente apaguei e saí de cena entre a saída de um hospital para outro.
O filho contava-me alguns pormenores que eu já não tinha registo.
A médica que tinha falado connosco. O homem que estava bêbado e que se metia com toda a gente e tiveram que o tirar de lá...
O maior vazio foi tu teres estado comigo até às 5 da manhã e eu não ter esse registo.
Disseste que falaste sempre comigo. repondia-te.
E disseste com os olhos rasos de lágrimas e um aperto na garganta.
Senti que cresci mãe.
Foi naquele momento mãe em que te tive de despir e por-te na cama.
Sei que alguém teria estado comigo, mas tudo isto está em branco..É tão estranho...
Às vezes em tom de brincadeira ainda dizes:
Claro, tinha que ser comigo, não sou o filho querido...
rimo-nos, claro!
Amo-te tanto meu amor (pilar).

confesso estou com a boca doce - já matabichei

Ainda tenho a boca a saber a manguinha pequenina da Lua que a filha trouxe.
Foi assim que começo o matabicho.
Confesso que primeiro agarrei-me logo à paracuca de benguela.
Depois soube-me bem voltar à infância.
A filha trouxe leite Nido. Daquele que não é instantâneo.
Fiz logo umas boas colheradas de papa. Só mesmo o Nido com água e ainda lhe estou a guardar o sabor. A sensação. A emoção.
O abaaxi ficou mesmo só na cozinha para a casa agarrar o cheiro intenso.
A fuba branquinha aguarda a família ainda dentro dos sacos.O caombo vermelhinho foi pro congelador.
O cheiro quente do sul traz-me de volta.
Estou com a boca doce.

a filhota chegou gora mesmo

estava a sonhar. Juro, ainda tenho daqueles sonhos bons de não querer acabar.
Despertou-me um beijo docinho.
A filhota voltou.
Contei-lhe:
acreditas que estava a sonhar que estava na escola? numa aula de artes.
estava extasiada tinha dois mestres tipo o Zink. Lembras-te de eu vos contar que foi o meu grande mentor nos anos setenta ainda na João Crisóstomo em Luanda, na altura em que morreu o Picasso e fizemos um minuto de silêncio, nós nem sabíamos o que significava. Era mesmo sinal de respeito.
Era assim o sonho. Era parecido. Tinham-nos desta vez dado um tema.
Fazer uma representação de nós próprios. Um auto-retrato digamos.
Lembro-me que o colega que ia ao meu lado tinha um esboço em que a figura tinha asas. A professora olhou-me e comentou:
Aposto que até já sabes o que vais fazer.

Na realidade não consegua imaginar-me. Conheço-me como uma leoa era sem dúvida o meu retrato. Mas não sou nada de atacar sem ser atacada... mesmo com fome... tinha as minhas dúvidas e repensei.
Revi-me elegante e forte atenta e dona do meu espaço. Foi assim que a filhota me despertou quando me preparava para fazer o meu esboço.
Afinal eu era uma Palanca Negra.

quando voaste até mim

Falaste comigo quase todos os dias.
Demo-nos coragem e encurtamos caminhos
Mas a dor da incerteza alongou a distância
aí, não conseguiste meu amor e voaste até mim.
É só uma lembrança disseste com os olhos marejados de lágrimas
trazias um rolo de tela na mão que me entregaste quase como se de um testemunho se tratasse.
eram quatro figuras femininas
mulheres seguras e com os pés pregados ao chão vermelho
força de quadris e a quinda da fortuna de futuro n)à cabeça.
Assim as vi
Nós a duas com a força de quatro
Assim me lembro.
Abraçamos-nos.
Ficaste mis serena.
Demo-nos força.
E toda a tarde saboreei o punhado de paracuca que trouxeste.
Afinal o sul é já ali na porta ao lado.
Eu bem te dizia meu amor.
Acredita, Em breve estaremos juntos.

a um salto do sul quanto aperta o coração

A saudade apertou o coração da mãe e trouxe-a do sul assim de repente.Apertamos o abraço e os nossos corações disseram tudo.Foi tão doce filhota. Obrigada.

E tu meu tesouro nem conseguiste descolar-te do colo da mamã, nem só para um miminho à vó.
Não faz mal.
A avó fica boa e vai outra vez brincar
dar colinho e dar a papa.
A mamã trouxe calor
A mamã trouxe amor
A mamã é linda
Diz outra vez para a mãe ouvir:
Amo-te muito!!!
Sim senhor. Muito bem.
A mamã também te ama muito.
Até amanhã. Feliz noite.
Amo-te muito meu amor.



Sabes, vou-te contar um segredo.
A mãe veio assim muito de repente porque estava num trabalho de muitos dias, mas chega amanhã!!!!
Viva!!!!!!

vó!!! onde estáa avó?

O Sul chamava de novo a mamã querido...
sabes que a mãe sem hesitar te deixava seguro com a vó
e tu meu tesouro agarravas-te seguro à asa quentinha da vó completamente presa ao teu cheiro.
Havia agora a nova escolinha, e t acreditavas e agarravas-te seguro à vó que te dava o ritmo da mamã, embora sem muito jeito para os DVD's que tu muito senhor de ti seguravas cm os deditos firmes pelo centro para delicadamente e seguro os colocavas na caixinha certa. Pedias que repetisse vezes sem conta já dentro da caixa mágica que reproduzia os sons e mostrava na grande tela as imagens do Nody Panda Tao Tao e sobretudo o fofinho Pocoyo e tantos outros que a vó já nem consegue decorar sem a tua ajuda.
Depois a avó foi trabalhar e demorou muito a chegar o tio foi para um escola longe e também demorava a chegar ficou então o tio Oka e a mana da vó e a vida foi andando até que um dia o tio conseguiu mostrar-te a avó da janela do daquele quarto que nã parecia o trabalho e também tinha umas camas com outras pessoas que não conhecias.
Fizeste uma cara muito estranha mas abraçaste muito a avó e disseste muitas vezes hello, by by "godmoning" que tinhas aprendido na nova escolinha.
Depois, depois a avó não podia sair dali e tu agarraste o braço da vó com toda a força e pediste tanto tanto para a vo sair por ali pela janela que a vó ficou com os olhos tristes e um bocadito turvos como o tempo cinzento que já estava lá fora.
Foi assim que viste a vó naquela casa grande onde não podem entrar os pequeninos e que tinha uma janelinha para a rua que dava para dar beijinhos.

ainda no teu cantinho - nas férias

Quero tatuar-te poro a poro
E desenhar-te na pele a linhas do meu corpo
Quero tingir-te com a seiva e o húmus do meu ventre
Amar-te assim intensamente até que se esgote o rubro das acácias
Que alimentam a terra do meu chão
Quero, quero vestir-te de mim

um cantinho para ti

esta ainda foi no sabor das doces férias...


Bebi da tua taça
Perdi-me na embriagues da tua flama
Onde retemperei o húmus da minha terra em chama
Bebi da tua sassa ardente
E sorvi o teu licor em taça quente
Achei-me então nos caminhos do teu corpo
Que clama pelo meu ébrio de ti
Trago a trago, deleitei-me no doce maná do teu conforto
Achei-me assim saciada na minha terra prometida

mensagem

A mensagem do filhote que encontrei no PC

Mâaaaaaeeeeiiiimmmmm poe-te boa!

aprendizagem

novo léxico
após estadia de uns dias no Fernando Fonseca
IPO para 2ª PL

Cefaleia
Dormência lado esquerdo

avc?
neoplasia
Tálamo
aneurisma do cepto auricular
origem tumoral
origem infecciosa
lesao infiltrativa?

linfositos atípicos
hemaparesia esquerda grau 4 mais face

FOP
RM
RMN
lesão do SCN

................................................
A 2ª PL diz que não!!!!
não é linfoma
Não, Não é Tumoral!!!

O que é então?

Nova ressonância para percber a evolução da lesão.

"Resta-me ficar sentada a fiar"

(Ainda muita dor de cabeça e contratura muscular)
O coraçãozito tem que esperar enquanto se investiga a lesão.














posível origem infecciosa
não conclusivo

resisto

Resisto
E de mãos cheias de vazio clamo:
Não tenho escolha
E sem escolha escolho a luta
Serena, com cheiros de terra, lar, doçura e futuros prenhes de abraços de braços minúsculos, pequenos, longos, ou fortes de todos vós que de dentro de mim vieram
Ou dos que de fora escolheram comigo caminhar
Afinal, afinal clamarei:
Eu tenho escolha!

sombras

Sem saber porquê a sombra oculta e húmida da lua
Teimou invadir o espaço do brilho de sol que me vem de dentro
Mas não quero ceder, nem quando aquele frio toma conta de mim e me trai a esperança
ou quando as dores me tolhem o corpo e me desfazem o sorriso
às incertezas de exames e mais exames, respondo com a força da certeza
do meu “Deus das pequenas coisas”
e é assim… que estou pronta!
É assim,
Que a força me vem de dentro de vós
De vós que de dentro de mim se fez inteira
Força de aço, braço, chama, raio credo e fé
Fiz-me em vós e por vós ficarei!

açores, apelo do coração

Sabes que me lembras muito o Patch Adams?
Será que foi a tua fonte de inspiração quando escolheste o caminho da enfermagem?
Depois o destino que te levou aos Açores fez-me pensar, que mais uma vez não teria sido por mero acaso.
Já me tinha ficado por este lado da face escura da lua na incerteza de voltar, e mesmo assim aguentaste-te determinado nas canetas. O círculo do nosso clã de afectos apertou o cerco e confortou-nos e tu meu querido portaste-te como só tu sabes a cuidar do bebé da mana eu rumou para sul, da tua passagem, das compra de última hora, da hipotética bolsa… enfim meu filho é só mais uma prova.
Agora alegra-me saber-te bem, a gostar do que fazes, a apreciar cada detalhe e a trazer-nos novos cheiros e cores de um novo espaço que não conhecíamos.
Abriste sem querer outra porta
Vamos ver o que nos espera…
Obrigada filho!
Amo-te muito.

quadro de valor a caminho dos açores

Quadro de Valor – Parabéns Filho!

Falei-vos em tempos no prémio do “Melhor Companheiro”?
Então agora ponham lá a cereja em cima do bolo;
- Receio bem que seja de tal dimensão que o peso a faça envolver o bolo.
Agora esta fez-me lembrar tempos lá mesmo muito atrás, em que a borda da mesa da sala de jantar ainda me dava pelo início do nariz o que já dava para os meus olhitos alcançarem aquela bola imensa vermelhinha que aparecia em cima da mesa e fazia-me crescer água na boca. Era o primo que com o pré conseguia trazer do DBI (Depósito Base de Intendência), o queijo flamengo, com mais umas coisas e dava de presente à mãe, aí eu imaginava que um dia quando fosse grande e ganhasse muito dinheiro eu comprava uma inteirinha só para mim, a abriria ao meio e punha o pão lá dentro e comia, comia até me fartar.
Voltando à nossa cereja linda, foi a que se juntou à dos Rotários de Carcavelos atribuída há uns tempos atrás ao meu caçulinha.
Esta cereja chamava-se “Quadro de Valor” e coube ao meu filhote que terminava o 12º ano numa EP com valores e de valores.
É que o filhote de pois de umas férias cheias de trabalho voluntário de Julho a Agosto descansava finalmente uma semanita antes de saber o que seria o seu futuro naquele início de Setembro que traria o seu passaporte para esta nova etapa, “Fac ou não Fac era a questão”, uma Fac Pública claro.
É que ser voluntário, disponível, solidário, generoso, participante, actuante, activo, brilhante e sensível não combinava ou pelo menos era difícil de gerir com o ser competitivo, ambicioso, marrão, ou cromo…
Mas filho, agora digo-te, do fundo do coração;
É difícil, senão quase impossível, colocar no mesmo prato da balança os pesos de excelência e valor quando no outro o sucesso se pesa por dignidade e amor.
Assim meu amor, derreti-me quando optaste pelo peso do valor.
Parabéns querido!

retomando a viagem

Vinham aí os cinquenta que já vinha anunciando antes mesmo de chegar a data tão esperada.
Cumpria-se a minha vitória do meu meio século. Agora era mesmo só continuar a caminhar.
Vinham aí os cinquenta que iam mergulhar no meio do rio calmo dos dias que prometiam quebrar as rotinas àqueles que durante o ano acumulavam promessas de sonhos de acalmia ou asas de águia daquelas que levam aos píncaros e deixam ver do alto o passeio das formigas, sem o receio do chicote do cronos nem dos ditames dos costumes e tudo condensado naquele prémio que como todos esperei, ao fim do ano de trabalho naquele intervalinho em que esperamos ao menos poder jiboiar.
Então prometi-me e programei pequenos mimos só para mim, como um pirolito ou paracuca no recreio.
Foi doce, pleno e gostoso e coroado com a passagem do meu meio século recheado de mimos, doces quentes, muitos deles, mesmo só do coração.
Deu-me então aquele estado de calma a sensação de leveza de missão cumprida… Assim mesmo, sem interrogações, reticências, ponto e vírgula, dois pontos ou exclamação. Mas sem ponto final.
Assim me achei até que o meu primogénito me presenteou com um romance cuja dedicatória será como uma oração que me acompanhará até ao fim dos meus dias.
Emocionei-me claro!
Não posso deixar assim de partilhar…

Renascer aos 50
Renascer aos cinquenta? Não!
Tu renasces todos os dias.
Minha Mãe, olho para os teus cinquenta com orgulho.
Como um exemplo…
Esses caminhos por onde a vida te levou
Ninguém te disse como os percorrer
Mas tu, tu chegaste aos cinquenta triunfante!!
Caminhei contigo por quase metade deles…
Ainda mal sabia andar e já olhava para ti, em silêncio,
Enquanto reunias as forças para subir Aquelas Ruas…
Costumavas dizer que eu era uma criança que observava muito…
Não podia ser de outra forma! Ensinavas-me tanto,
Deste-me tanto…
Mãe, a palavra que define o teu caminho até aqui é Amor.
Fizeste toda a tua vida com essa bússola que te fez
a mulher que amo Hoje!
Poucos podem dizer o que te digo…
Espero conseguir seguir o trilho que me tens deixado.

Parabéns Mãe

Óscar 09.09.2010

de passagem

Assim me trouxeste embrulhado o canto do sol
carregado de sons de feitiço nos tons de calor
que adivinha festeja anuncia com brilho fatal
o regresso da lua que me chama em tom sedutor

cortaste caminho avançaste desperta despida de dor
abraçaste o presente e agarraste o futuro tingido na pele
sonhaste viveste vingaste o destino com lábios de mel
e roubaste o tesouro guardado nos sonhos do alto do sul

assim me trouxeste a minha lua luanda
assim te deixaste no feitiço da banda

No serão

Vou,
Vou refugiar-me no quente do teu abraço,
Levar-te o cheiro a caju que me tomaste,
Erguer a palmeira entoando hinos ao amor.

Seguir o trilho da fé com a força de peregrino
Devolver-te o elixir feito terra vermelha.
Seguir-te kimbanda, e perder-me nas histórias de mim,
Feitas terras, fogo, alma, dor, saudade, luxúria, amor.

Soltar as garras mansas no teu leito
Onde ainda guardas calemas, chanas, anharas, matas e rios
Onde habitam fantasmas, espíritos, antepassados
Tomar-te enfim.

O Francisco já nasceu!

Olá, acabei de chegar são e salvo da minha viagem de 9 meses e 10 dias, aterrei eram 1:47, está tudo bem comigo!!!!

Ass. Francisco


Rosas brancas como diziam antigamente!- diria a mãe.

O Francisco nasceu e o o papá babado enviou-nos este telegrama lindo pelo telemóvel.

É lindo, muito cabeludo, parecido com a mana que diz que o silêncio é verde.

Um novo rebento para alegrar os nossos dias de futuro com novos presentes para nos dar.

A história de um serão | um presente de amor

A história de um serão


Vem,
traz-me memórias d’Africa,
calemas, chanas, anharas, matas e rios.

Vem,
acorda em mim histórias incontáveis,
fantasmas, espíritos, antepassados…

Vem,
cura minhalma da saudade de ti, antes de te saber,
e das terras que foram recreio de juventude.

Vem,
dá-me a tua magia
e acorda o Kimbanda que fui.

Vem,
traz-me o cheiro a caju, a coroa de palmeira,
da gazela o olhar, da onça as garras.

Vem,
com aquele jeito de gata inofensiva
de repente leoa, empina-te, torce-te, salta.

Vem,
sussurra o que quero ouvir,
depois geme, grita, urra, morde.

Vem-te,
e por fim…
leva o que restar de mim!

JSSilva
qua 28-07-2010 02:56

Falam os Mestres

esta chegou-me emailada por uma amiga.


Um mestre do Oriente viu quando um escorpião que se estava a afogar decidiu tirá-lo da água, mas quando o fez, o escorpião picou-o. Pela reação de dor, o mestre soltou-o e o animal caiu na água e estava-se a afogar. O mestre tentou tirá-lo novamente e outra vez o animal picou-o. Alguém que estava a observar aproximou-se do mestre e disse-lhe:

- Desculpe-me mas você é teimoso! Não entende que todas as vezes que tentar tirá-lo da água ele irá picá-lo? O mestre respondeu:

- A natureza do escorpião é picar, e isto não vai mudar a minha, que é ajudar.

Então, com a ajuda de uma folha, o mestre tirou o escorpião da água e salvou sua vida, e continuou:

- Não mude sua natureza se alguém lhe faz algum mal; apenas tome precauções. Alguns perseguem a felicidade, outros a criam. Quando a vida lhe apresentar mil razões para chorar, mostre- lhe que tem mil e uma razões para sorrir. Preocupe-se mais com sua consciência do que com sua reputação. Porque sua consciência é o que você é, e sua reputação é o que os outros pensam de si... E o que os outros pensam… é problema deles.

boa noite mãe

Fui contigo filha

A filhota ontem (19) rumou para sul.
Está na Lua.
Chegou bem.
No aeroporto apeteceu-me correr para lá sem olhar para trás...
Esperamos na angústia da despedida calada com disfarce de conversa de circunstância com o tempo a acompanhar ali mesmo parado num gozo tranquilo da espera.
E ria. Ria descarado a ver-me saudosa feliz.
Mãe, não vou querer ver choradeiras…
Não filho, é tudo tão simples como se este hall fosse um enorme corredor com várias portas que se vão abrindo e fechando. Assim vamos entrando e saindo dos lugares vários da vida,
do mundo. Assim é o espaço. Assim é o tempo… assim o vejo desde sempre.
Olhei o fundo do corredor como que para o infinito. Disse ao filho que era ali que eu ia um dia encontrar o sul. Estava muito escuro. E baixei os olhos para esconder o pesadelo de muitos longos dias a percorrer o corredor sem conseguir encontrar a porta do sul. Como se a visse e a não conseguisse alcançar… como se premisse o botão do andar no elevador e ele nunca parasse no piso esperado.
E agora ali tão perto…
Foi quando disse resoluta com os olhos do filho presos aos meus a tentar segurar comigo o fardo para me aliviar do peso. Vou-me embora.
E penso que fui. Fui contigo filha. Hoje quando me ligaste não percebi sequer a distância. Estamos juntas.

segredos

Ontem experimentámos juntos o sabor de uma amarga memória.
Convidei-te a ver horror que provaste pela primeira vez.
Foi mesmo dessa forma que to anunciei meu filho.
Tinha que partilhar disse-te.
Carregava-o comigo desde tão cedo
que a pele da minha alma se me envelheceu ainda no corpo de criança.
Assim surgiram as sombras
que teimo pintar de verdes prados, corroer de luz e tintas tantas
que mesmo que se me tolde a vista, vazem os olhos e tolham os membros
que seguram a ponte que nos une neste espaço de vida
não largarei, não deixarei que a tela de futuro se nos escape.

Novas memórias roubadas dos pedaços

Novas memórias.
De vida, de uma nova vida prenhe de doces recados
de cheiros e calores de encontros
de futuros de passado vividos neste presente
embrulhadinho em papel de ceda
que trago e cuido com desvelo
numa vigília constante como se pudesse
como se quisesse como se devesse e me atrevesse
ou pudesse evitar as sombras.

Este futuro que traz consigo o império
de pilares feitos gente que me ergueu
a família feita de novos a aprender caminho
de mais velhos a deixar testemunho
de minúsculos polegarzinhos a testemunhar herança feita festa,
entre parentes que se pode juntar
no momento que se faz sempre do hoje,
em paredes que alargaram, na sala que invadiu a varanda onde móveis que se comprimiram, em jeitos de força, vindos da força de laços,
num milagre para transformar o andar no quintal
deste futuro feito o meu império.

ando por aí

ando por aí a passear histórias
de brilhos e cheiros
e sons de luar

que envoltos em sonhos tecidos de seda, se vestem de gala
neste estado de mim

ando por aí a passear histórias
de trilhos primeiros
que escutas no ar

e ocupo silêncios que gozam da brisa de novas vitórias
montadas no dorso do meu arco íris que guardo na mala
que fiz para mim

Assim me escondo em silêncios roubados
a risos de festa
de uma nova vida de vestes de seda, brocados
cetins de cor de carmim

e passeio o meu sonho montado em sorrisos num rio de paz
que em encantos salgados de espuma de mar
se queda mistura e revolta na boca e em fim se desfaz

ando por aí (na foz)

sabe bem ver isto... lindo!!!

Um cantinho para ti mãe

Mãe, desculpa.
Mas só tenho um cantinho para ti
hoje que devia ser um todo e grande
só dedicado a ti
para festejar como devia ser
a tua resistência
mais uma vitória tua no combate que sabemos
já penoso a somar aos dias grandes de glórias
que nos deixas cada dia
obrigada

“Aluno Melhor Companheiro” - Parabéns filho!

Até há uns tempos atrás desconhecia. Mas existe mesmo.
É o prémio “Aluno Melhor Companheiro”.
É uma forma de reconhecimento ao verdadeiro Camarada.
É promovido pelo Rotary Clube de Parede - Carcavelos. Isto também soube agora.
A notícia chegou hoje pela tarde quando o telefone tocou e do lado de lá alguém dizia ser uma Professora da escola do filhote e que queriam falar-lhe e tal...
Lágrimas...
Agora era emoção forte de orgulho mesmo, filho...
Disseram-me que te tinham proposto, e tal, tinhas o perfil e tinhas ganho.
hum mm!!
O meu caçula acabou o secundário com o dito prémio que lhe foi atribuído!!!
Pópilas, até podia dizer: - mas então ser gente como deve ser, dá prémio?
Mas não, eu entendo. São os tempos, filho.
Obrigada. Obrigada mesmo por perceberes o incentivo. O que representa para todos aqueles que necessitam de saber que vale a pena preocuparmo-nos, lutarmos e estarmos sempre ao lado do outro.
Sobretudo, por perceberes que fazes apenas o que deve ser feito. Que fazes do coração.Que segues apenas os princípios e os valores que te passamos.
Parabéns filho!

Deixo-te agora dois poemas do Eugénio e do O'Neill.
Amo-te muito meu filho.

URGENTEMENTE

É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
Ódio, solidão e crueldade,
Alguns lamentos,
Muitas espadas.

É urgente inventar a alegria,
Multiplicar as searas,
É urgente descobrir rosas e rios
E manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
Impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
Permanecer.

Eugénio de Andrade,

AMIGO

Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra amigo!

"Amigo" é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!

"Amigo" (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
"Amigo" é o contrário de inimigo!
"Amigo" é o erro corrigido
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada!

"Amigo" é a solidão derrotada!
"Amigo" é uma grande tarefa,
É um trabalho sem fim,
Um espaço sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
"Amigo" vai ser, é já uma grande festa!

Alexandre O'Neill,

Emoções fortes

Ok
pronto. de novo a serenidade e atitude cordata a avaliar e a conciliar o momento quente que fez abrandar as nossas vozes que só conseguiam tocar o concerto da revolta, para dizer aquele, sinto-me bem comigo, tudo aquilo não foi mais do que uma forma de reduzir o número de entradas e apaziguou assim as nossa grande maka do dia.
Filho continua a tua luta.
Abria-se assim espaço para comemorar o grande acontecimento que só me foi dado a conhecer já pela tarde.

O meu filho não passou no exame da Ordem e tinha (tem) Um Sonho…

O meu filho não passou no exame da Ordem
e tinha Um Sonho…
Quando lhe disseram que “não era uma saída… já havia muitos…”
Ele foi firme e acreditou no seu sonho.
Fez um part–time num Call-Center para pagar ao estado o facto de investir na sua formação e cidadania
Porque tinha um sonho
Usou transportes públicos para se deslocar durante a sua formação e pagou do seu bolso
Porque tinha um sonho
Fez enfim brilhar os meus olhos e rebentar o meu peito de emoção
Porque enfim se cumpriu um sonho…
Hoje…
Desfizeram-me o sonho
O meu filho não passou no exame da Ordem
Senhor Marinho Pinto, quando diz:
“Entendemos que essas pessoas formadas com três e quatro anos pelo processo de Bolonha não têm os conhecimentos de Direito necessários para exercer a profissão”
Não está de certeza a falar do meu filho, que se formou na respeitável e exigente Instituição que é A Universidade Clássica, a pública que forma os melhores, meu senhor.
Li sobre a questão que evoca a “restrição do livre acesso à profissão” que o exame implica viola o artigo 47 da Constituição relativo à Liberdade de Escolha de Profissão, entendimento a que o Tribunal Administrativo de Lisboa já deu razão.
E o Senhor Marinho Pinto recorreu em defesa da qualidade do exercício da profissão no mercado de trabalho.
Mas o meu filho tem um sonho, e eu
E eu acreditei …
“…numa promessa de que todos os homens veriam garantidos os direitos inalienáveis à vida, à liberdade e à procura da felicidade.
É óbvio que …ainda hoje não pagou tal promissória no que concerne aos seus cidadãos.
Em vez de honrar este compromisso sagrado, …deram-nos …um cheque sem cobertura; um cheque que foi devolvido com a seguinte inscrição: "saldo insuficiente".
Porém nós recusamo-nos a aceitar a ideia de que o banco da justiça esteja falido.
Recusamo-nos a acreditar que não exista dinheiro suficiente nos grandes cofres de oportunidades deste país.
Seria fatal para a nação não levar a sério a urgência do momento e subestimar a determinação dos nossos filhos.
Este sufocante verão do legítimo descontentamento … não passará até que chegue o revigorante Outono da liberdade e igualdade.
Hoje para mim, direi:
…não é um fim, mas um começo. Aqueles que crêem que se precisava só de desabafar, e que a partir de agora ficará sossegado, irão acordar sobressaltados se o País regressar à sua vida de sempre. Não haverá tranquilidade nem descanso na América até que o Negro tenha garantido todos os seus direitos de cidadania
Eu tenho um sonho de que, um dia …os meus filhos e os filhos de antigos senhores … poderão sentar-se juntos à mesa da fraternidade.
Eu tenho um sonho de que, um dia, até mesmo aqui … um estado sufocado pelo calor da injustiça, será transformado num oásis de liberdade e justiça.
Eu tenho um sonho de que meus três filhos… um dia, viverão numa nação onde …serão julgados apenas pelo conteúdo de seu carácter… a sua competência o seu direito à escolha de uma profissão digna." Livres, enfim. Livres, enfim, somos livres, enfim.
Tenho um sonho que um dia esta nação levantar-se-á e viverá o verdadeiro significado da sua crença:
"Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais".
(Martin Luther King, Jr. em Washington, D.C., a capital dos Estados Unidos da América, em 28 de Agosto de 1963, após a Marcha para Washington)

boa noite pai

quero dedicar-te hoje pai
o meu ultimo pensamento do dia
hoje no teu aniversário.
Obrigada.
Ainda consigo ver os teus olhos sorrirem colados aos meus
com o brilho intenso com que coloriste as nossas vidas.
Obrigada pai por poderes estar sempre presente
ainda que a esta distância.

Porque

Filha quero deixar-te hoje com Sophia



Porque


Porque os outros se mascaram mas tu não

Porque os outros usam a virtude

Para comprar o que não tem perdão.

Porque os outros têm medo mas tu não.


Porque os outros são os túmulos caiados

Onde germina calada a podridão.

Porque os outros se calam mas tu não.


Porque os outros se compram e se vendem

E os seus gestos dão sempre dividendo.

Porque os outros são hábeis mas tu não.


Porque os outros vão à sombra dos abrigos

E tu vais de mãos dadas com os perigos.

Porque os outros calculam mas tu não.


“No Tempo Dividido e Mar Novo"

Para ti

Repousa a dor a cor da luta de tréguas incontadas
De uma vida de sonho sonhada em busca do teu país inventado
Na cor macia quente e calma do meu seio

Eu recortarei tuas mágoas sem fim
E delicadamente tecerei futuros de linho e ouro
Ataviados em fitas de sedas e cetins
Bordados em fios de luz na minha agulha de marfim
No teu espaço de dor duro de pele tecido de couro

Evitarei ouro prata e pedrarias na arca há muito guardados
Damasco, brocado e veludo, feitos em luxo menor
E em pontos bordados lavrados de fios de amor
Esbanjarei para ti o requinte do detalhe nos teus espaços
E em abraços de ondas bordados lavrados te irei preencher

vou-te adormecer ao som de miles davis

Podes baixar a guarda
Deixar que a profusão de azuis
te invada numa orgia de sons
e penetrem os teus poros que ardem
enquanto sorves o mel que brota
da pira da terra vermelha do meu ventre.
Podes baixar a guarda amor
Porque hoje, vou embalar-te na bacia do meu colo.

Meu guardião do fogo podes adormecer


Hum… hum… hum……
............
But don't change a hair for me
Not if you care for me
Stay little Valentine stay
Each day is Valentine's day….
.............

levantar-me

Hoje vesti-me de luto
Mas a minha alma troçou de mim
e o berrante do riso atravessou a cor
vestida de negro da suposta dor
e tingiu o negro de luz em tom de carmim

Hoje acordei com o peso de penas, e ais
Desaires, discórdias, enfados, e outros que tais
Vestida de dor, desamor, tristeza, desencantos reais
Mas um estado de graça tomou conta de mim
Cobriu-me, vestiu-me de glórias e ditou o fim

Assim me achei num estranho estado de mim
E disse para mim
Hoje acordei leve e vou vestir-me de cores para mim

à espera

Deixa-me mergulhar no teu corpo feito berço
E vestir-te do meu odor de vida feito pele
Quero atravessar contigo a neblina do sonho feita névoa de prata ondulando azuis
E saborear o húmus da terra vermelha que nos espera

18 de Maio

Já caminhamos juntos.
Assim mesmo, lado a lado.
É assim que o sinto.

Embora ainda caibas nos meus braços,
Ainda sossegues da luta diária, no repouso do meu colo
Sinto-te caminhar comigo
Assim mesmo, lado a lado

Festejado no costume da tradição
Reunimos no espírito da família
E estavas lá, a ocupar já um lugar quase de saber
Saltaste a curva do quarto de século
Feita já de algumas batalhas que te escolheram
Sem te olharem o rosto de menino
E com jeito de gente grande foste vencendo
Com elegância e sabedoria.

Posso contar-te um segredo?
Não existe maior tesouro, maior dádiva
Do que ter-te meu, sabendo-te já dono de ti.
Obrigada, meu filho, meu primogénito.
Sinto orgulho de ser tua mãe

à sombra da tua tenda

Hoje vou aproveitar a sombra da tua tenda
E fiar demoradamente a mescla de cores e odores
Que retirei da luz da noite da minha pele
Enquanto isso, bebo deleitada a paisagem que sorvo de mim
e redecoro e ilumino a tua capa de guerreiro
Hoje eu sou a terra e vou dar-ta como oferenda

à espera II

repouso no silêncio dos teus passos
ouço os sons da estrada que me espera
e estranhamente me descubro
no caminho inverso do vazio
que um dia colei distraidamente
na dobra da bainha dos desejos que tecia para mim

para a mãe

Um bouquet de rosas para ti
- rosas vermelhas brancas
amarelas azuis -
rosas para o teu dia

Suavidade e frescura
das curvas ansiosas da terra
e a exaltação poética da vida
- suavidade e frescura para o teu dia
(…)
Um bouquet de rosas para ti
- rosas vermelhas brancas
amarelas azuis –
rosas para o teu dia
e Vida! – para o teu dia
envolvo-os carinhosamente(…)

Para ti nos cantinhos da alma
http://www.agostinhoneto.org

tenho um vestido garrido de barras de cores

tenho um vestido garrido de barras de cores
onde escondo os sonhos de muitos autores
teatros bandeiras festejos e coroas de flores
recados retalhos conversas vividas sabidas de cor
que guarda histórias e velhos segredos de muitos amores
pecados de almas diversas vestidas, despidas de dor
eu tenho um vestido garrido de barras de cores


tenho um vestido garrido de barras de cores
onde repouso de dia a noite enfeitada de fitas de dor
que clama por glórias, votos achados e desejos vencidos
promessas, vitórias, de amores calados de fés despedidos
pecados, retalhos, conversas mantidas, ao som do calor
que guarda histórias e versos lembrados de tantos amores
onde pouso a vida em novelos de fita de seda de cor
eu tenho um vestido garrido de barras de cores

ponto cruz

Nas estradas poeirentas da sorte
Bebi um dia a morte num cálice feito concha de mãos
Sentei-me no norte e despedi-me do sul, exausta de mim
E de olhos fechados pendurei-me no abismo da dor
Afagando as chagas com lâminas frias aguardando o fim

Quis então o destino mostrar que era mais forte
E mostrou-me a cruz da esperança enlace doce
Num ponto de cravo vivo urdido e fechado de um norte
Cruzado com um fio de luz bordado em chama quente de sul

adianta-me agora

Adianta-me agora
O sonho, a busca, o desejo de ficar.
Adianta-me agora
O sentido sentido, da partilha do espaço
Que fizemos temperado, com gosto de amanhã
Adianta-me agora e de novo
O sonho, a busca, o desejo de ficar.
Adianta-me agora amor, o futuro

Vem-me buscar

Vem-me buscar.
Quero aninhar-me no teu leito
Descansar nas ondas do teu mar
Colar ao teu o meu odor
Viajar nos teus sonhos com cheiro de mim

Vem-me buscar amor,
Quero enroscar-me, colada ao cheiro do teu peito
Dançar descalça no balanço das ondas do teu mar,
Coser no teu o meu amor,
Viajar contigo nos teus sonhos de fúria, encanto, loucura e cor.

Vem-me buscar amor,
Faz-me ficar,
Entranhar na bacia da tua mata de mistério
Embrenhar-me nos espaços do teu rio
Que revisitaste agora a pensar em mim

Vem-me buscar amor... faz-se tarde.

A comenda

Ficou colado ao banco
exausto de mil investidas
na pretensa cavaqueira
em jeito despretensioso
mas carregado de intenção.
Do muito que disse então
ficou muito por dizer
agora digam lá meus senhores,
a causa de tal omissão
nesta que era dita uma empresa
de tão grande dimensão?
Falo de muros quebrados
nobres costumes, e transformações
estados ditos de direito
homens de muitas razões,
passeio por lugares diferentes
em tom de grande sedução
erguendo sempre a real taça
da glória de tal nação.
Vestida com vestes de festa
orgulho de tal dimensão
por filhos dotados criados
na seio da tradição
fui desfiando glórias,
cantos, louvores e vitórias
e em tão grande proporção
que foi mantido o carrasco
dentro da caixa selada
a salvo de considerações.
Agora digam lá meus senhores
a causa de tal omissão
Quem sabe por r(d)ores de razões
que nos apagam memórias
de cansaço de contendas
contra o vilão gordo e seboso
que teima ter sempre razão.
Aquele que nos veda o caminho
quando desde tenra idade nos impõe diferença
para com outros bichos como nós.
Escondi feridas já saradas,cicatrizes,
amargos de sal em faces secas,
veladas dores suportadas por firmeza.
Dourei a pílula, como quando cantamos o choro
Deixei que me tolhesse a razão,
Inventei a pedra roseta, atingi a perfeição,
quando escondi o carrasco, inebriada pela paixão.
Agora digam lá meus senhores
a causa de tal omissão.

Só me resta ficar sentada a bordar

Só me resta ficar sentada a bordar
No consolo que Matiz não tem urdidura e é em forma repartida
Descoso pacientemente, penas e agruras de matizes escuras
Seguro com firmeza delicada o pano de vida
Deixo deslizar entre os dedos os fios de luz de esperança
E quedo-me enfim.
Só me resta ficar sentada a bordar
Temperos de luz feitos de pontos que inventarei para mim
O Arrendado farei, extraindo, descarnando, fios no tecido
Quer na vertical, quer na horizontal.
Tudo bem contado, buracos formados,
Prendo-os bem presos com a minha linha de bordar.
Ainda preso nos dois lados finco a linha e avanço Escada
Enquanto isso segurarei , Corda é muito simples
É na base da partilha do mesmo buraco
em que acabo o ponto anterior.
Acabada corda posso ir Atraz,
Nem mais, nem menos, o avesso da corda.
Ponto a ponto em relevo pela “urdidura”,
e concluo com uma cobertura, o relevo de Bastido
Sofrido, dorido qual colóide na pele.
Chego ao Chão, sem relevo uma vez que não “urdido”
Aqui o preenchimento é unido chegando aos pontos longos
Como passos que se encontram numa posição oblíqua.
E passo daqui para as Folhas Abertas e Fechadas
Então posso escolher e fazer a divisão
Em abertas e fechadas
Nas abertas, chego-lhe o arremate com cordão no rebordo.
Nas fechadas, uma vez urdidas e fechadas, acho o feito.
Entro assim na Sombra,
E pelo avesso dou-lhe o efeito
Só vindo Atraz para as extremidades.
Só me resta ficar sentada a bordar
No consolo que Matiz não tem urdidura e é em forma repartida.
Este acabei agora mesmo de roubar ao "Citador" que viaja no face.

Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo

Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre

Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

Momentos a so(s)

Descubro-me com o estranho prazer da descoberta
Descubro-me com um novo ser de mim que exala cheiro,
emite sons, exibe formas e caminha sozinho.
Estranho-me no novo caminho que percorro agora
com o dedilhar macio de pés em teclas de vida.
Descubro-me com o doce perfume que me envolve as ancas
que embalo no gingar desta nova canção que trauteio
enquanto me descubro nesta descoberta de mim

Ontem senti passar o testemunho

Ontem esticamos o jantar
percorremos o serão com memórias
passamos testemunhos com cheiros das viagens da infância
a dos meus pequeninos agora com voz de grandes
dos que já falam em passado,
em memória na voz do meu mais velho feito homem
Ontem filho, ocupavas já o lugar que vais ganhando
o vi que o mano caçula te ouvia e bebia os teus saberes
Obrigada meu filho.
Ontem senti passar o testemunho

excesso de bagagem

entenda-se, por excesso de bagagem.
bem avaliado entre pretextos de sons
algures interrompido por um poema roubado
feito balanço respiro entre goles de luz
num espaço de tempo carregado de folhas de cadernos de cores
pesados de dores aliviadas de esperanças e equilíbrios de fé
em que o tempo me acena inventando um tímido sorriso
a que respondo com um terno e resoluto bordado de flores
adivinha-se longa a primavera
entenda-se, por excesso de bagagem

Neste dia com Namibiano Ferreira

EMPTINESS

Forjar na polpa das palavras
a sintonia suculenta do morfema
e sair nu cantando lavras
semeadas na cor do poema
ondulando liberdades e savanas
com olhos molhados de punhais
e vozes quentes de calema.


Vivemos um momento
vazio e frio de sentidos
há, como dizem os ingleses,
uma cruel emptiness, um vácuo
castrado de utopias e sonhos
suspensos, ideais na diáspora...


À varanda pálida dos lábios
sequiosos da alma, rosa aflita,
esta infame e crua certeza:

A POESIA
NÃO SERVE
PARA NADA!

Os poemas, como as cartas de amor
do Campos, o tal louco de muitas pessoas,
(ou o tal Pessoa de muitos loucos)
são papéis riscados com letras...


Namibiano Ferreira

e porque é domingo

apetece-me falar-te pai

Parece que tinha que ser mesmo hoje pai.
Sabes pai, acredita que és mesmo o responsável por esta viagem.
Às vezes apetece-me falar-te, sabias?
Do muito que tens visto, que eu sei que me vais acompanhando.
Da mãe com aquela força que conheces bem.
Dos manos que vão estando sempre por perto
Sabes que a pequenina leva a letra o recado que lhe deixaste,
e não me tem largado um único momento...
Também não era preciso dares assim tamanha responsabilidade...
Enfim, tu sabias bem o que lhes estavas a pedir, tu sabias pai.
Não tem sido fácil, mas temo-nos aguentado.
As coisas que eu estou para aqui a dizer...
como se não soubesses de tudo.
Claro que sim pai, eu sei.
Também, na realidade não tivemos tempo para grandes despedidas.
Mas acreditas, que embora no último momento me tivesse agarrado a ti
quase num desespero em forma de grito surdo que me tomou o corpo, a voz e a mente
só travado pelo coro de vozes de mais velhos que me chegou em surdina
numa quase súplica de um deixa-o partir...
te vi caminhar assim, serenamente em direcção à luz,
foi assim pai que te deixei seguir...
faz tanto tempo e tão pouco...
Olha que me têm perguntado, e sabes o que sinto
e que respondo com a sensação que nos deixaste
Que de todas as tuas viagens pai,
na nossa nada ficou por fazer,
nada ficou por dizer, deixaste-nos tudo o que poderias deixar.
Obrigada pai, sinto-te tão perto...
Amo-te tanto... que dói.

suspensa no tempo

fiquei suspensa no tempo
num tempo de nunca acabar
mãe, trouxeste-me de volta a festa
dos nossos almoços feitos serões
os jantares a abrir de novo a madrugada
em que na mesa cresciam as vidas temperadas de tradição
onde eternizamos paixões realizações e combates
fizemos, trouxemos, festa, luta, raiva, dor, amor
em cumplicidades fraternas de colos seguros.
mãe, como sentimos perto os corações que enlaçaste
e voltamos a dar voz ao tempo de família neste espaço
que bom foi estar suspensa neste tempo
que bom voltar ao lugar do tempo
num tempo de nunca acabar
foi mesmo bom estarmos juntos mãe

o pior são as casas vazias...

era suposto ser um caderno de família mãe...
corpos despidos...
assim rematava com um sorriso terno mas comprometido...
eu disse corpos despidos?...filho, é só poesia... e rimos juntos.
quando a minha companheira de viagem se meteu comigo parei para perceber até onde ía esta vontade.
afinal restava o conforto.
às vezes a tocar o arrebatador da vontade de querer
então confidenciei-lhe sorrindo quando senti o toque do gracejo...
...o pior são as casas vazias os dias cinzentos, as portas fechadas. então buscamos alimento. pela poesia... chamamos assim. à que nos alimenta nos habita com os t(s)ons de azuis...
(blues...(soul)ficava bem...)... ok...

apeteces-me

Apetece-me habitar-te
Habitar o odor da tua casa de eternos verões
Trajar as vestes de festa que te pertenceram
Vestir combates e lutas de (s) iguais que já travaste
Apeteces-me, simplesmente apeteces-me.

desencontro

Porque desistes da descoberta meu amor?
Porque apagas a chama e desfazes o caminho sem mesmo pousares a mochila?
A tua tenda, essa não precisa de chão.
Vive em ti entranhada qual mortalha,
embebida em sonhos e desesperanças de fé de razão.
Mas não, não a tomes como peso, ela será apenas a tua terceira mão
aquela que só existe na nossa razão,
a que faz com que entreabras a porta e deixes passar a luz
a que te faz descobrir o que se encontra entre o preto e o branco
e assim retomar a jornada
Depois, poderás dormir meu guerreiro,
e terás a paz da brisa quente do sul

hora de alda

Nesta noite morna de luar africano
Salpicando de sombras as estradas
Eu estendo os meus braços sedentos
Para a nossa mãe África, gigante
E ergo para ti meu canto sem palavras
Suplicando bênção da terra
Para as vias dos teus caminhos
Para a rota do destino imenso
Traçado na inteireza de todo o teu ser
Para ti, a projecção das nossas estradas
Varridas da impureza dos dejectos inúteis
Para ti, o canto de glória da nossa
Mãe África dignificada.

Alda espírito Santo
in é nosso o Solo Sagrada da Terra, 1978, Lisboa, Ulmeiro

um bouquet de ternura neste teu(nosso) dia

A uma mulher extraordinária, um bouquet de ternura neste dia. Feliz dia da Mulher! foi assim filha que resumi a enorme vontade que tenho hoje de te abraçar e tu sabes meu amor... especialmente neste dia. Amo-te muito.

Beber-te na trilogia da degustação

Vou sorver-te de novo, gole a gole, a cada instante.
Beber-te na trilogia da degustação.
Provar-te o cheiro que inala o odor de ti e deixa que invada o céu da mente, entranhe ardente na terra da pele até que saia de novo em suor de cheiro doce pelos poros.
Deixar então que de novo me volte a penetrar as narinas.
Embalar-me na dança ébria das papilas que te gozam na bacia quente da boca que tenta teimosamente travar a doce viagem de rio.
Então aproveitar a descida das águas agitadas a montante na garganta ávida de gosto de ti onde ledas dormirão o sono dos deuses.
Finalmente deleitar-me no sussurro das águas calmas que esperam a jusante.
Assim, vou sorver-te de novo, gole a gole, a cada instante.

na tua esteira

pousei timidamente o corpo
quando estendeste para mim a tua esteira de vida
e deixei a pouco e pouco que entrelaçasses as fitas de cor
dos sonhos e histórias de ti, de que te despiste.
deixei que enfeitasses o caminho na viagem com o teu perfume quente e doce
tecido de pétalas com que me percorreste com encanto de saber
agora feito meu manto de pele com que me visto todas as noites para ti
agora quero vestir a noite de festa
e dar-lhe o brilho molhado da lua
abraçar o tecido negro e sedoso da sua pele
e menear as ancas ao som do piscar das estrelas
só depois seguirei o trilho claro dos teus olhos
e deixar que me embales na tipoia da tua alma

quero estar comigo

exausta, abandono-me na vontade de tanto te querer
banho-me no rio quente e escuro do ventre redondo da noite
e engulo o amargo do acre da saudade de te sentir.
então resisto, e mergulho nos sons do silêncio da dor que já conheço
finco os flancos, mordo os lábios secos ávidos de mim
rasgo o espaço e expulso da noite do ventre o grito rubro de ser
afinal, hoje eu sou a noite e quero estar comigo.

hoje apetece-me sonhar-te

hoje apetece-me sonhar-te
e apartar-te da viagem solitária
encurtar o espaço é uma questão de tempo
agora é mesmo um pequeno sopro de distância
que me retém no presente com paredes que fedem a gosto de ti
apetece-me sonhar-te e entregar-te este mim feito força
que te invadiu os sonhos e devorou as entranhas
distorceu as voltas da mente que entendias com voz de comando
quando beduíno me percebeste tenda da tua viagem

porque

porque te sonho em cada momento com um sonho de futuro que já fizemos presente e sorvo deliciada a dádiva de cada momento feito eternidade

por detrás das máscaras

por detrás das máscaras coube-nos o destino
de viver o sonho de um beduíno
reacender o lume e transcender o pleno
vestir o louco, festejar maldições, reinventar tradições
adorar o instante que repousa saciado na eternidade

pintando o destino

procurei a paleta e sonhei-me pintando o destino.
as cores gritaram, rasgaram sorrisos
e correram bamboleantes para o palco da festa.
lançaram torrentes de cor num curso imparável
marcaram contrastes fumaram e colaram perfis
brindaram à luz sem reservas numa composição de sois
e gozaram à farta o momento trocando-me as voltas.
em pose fintaram os caminhos e sem respeitar a vez
marcaram traços vivos, veios e novas rotas de cor
e tornaram ao meu colo saciadas enfim
assim me sonhei pintando o destino

no veludo do silêncio

espreguiço-me no veludo do silêncio
absorvo demoradamente os sons
que se esgueiram sorrateiramente pelas estradas de pele
e penetram numa sonata de fortes odores nas frestas de mim
sorvo o tempo que já não se veste de espera
gozo este novo tempo de festa e saboreio-lhe os contornos
é bom acordar de novo na nova pele com gosto de amanhã

contraditório

Contraditório...
foi assim, que o 'relojoeiro' se referiu àquele desacerto.
Agora fico em tempo de aprender
a colocar o tempo certo, na medida da distância,
naquela que na razão nos une em separado.
É assim: existem dois tempos/espaços reais, filha.
o teu e o meu em paralelo como gaia e urano traçaram.
mas não convergentes, assim eu tento e me (es)forço,
e eu quero largar o espaço do teu percurso no tempo real, juro que quero.
Depois, depois dou-me conta que quando tomas o teu curso
eu o confundo ou o reivindico como meu, qual kronos.
Sejas zeus assim o espero, senhora do teu olimpo
pois desfeito este kronos de mim minha hera
ficarei mais perto do teu tempo, do teu caminho.
contraditório...

minha cidade (n)dos setenta

fiquei mesmo com a lagrimita no olho.
ía aqui mesmo de passagem e o namibiano trouxe-me a luanda embrulhada nos anos setenta com os negoleiros a lhe darem cor.
senti a festa daquela altura quando era garota,
tinha ainda o perfume do planalto central mas aprendia esta força da luanda que guardei.
depois de algumas tentativas para arrancar do "podO" a música,
o namibiano deu-me um empurrão e aqui está a minha cidade é linda

hoje

Hoje vamos riscar o sol de uma rapsódia de azuis
e deixar que a sua lava amarela lamba o mar deitado aos nossos pés
enquanto mansamente se balança e descansa entre marés
a seguir, pé ante pé enrosquemo-nos entre os dois
e deixemo-nos fundir no seu colo entre temperos de luz

almas feitas cravos rubros em chamas de sul

Fiz-me nascida de dois pais pares a par
hoje vista de maneira diferente
mas mesmo assim com outros muitos olhos de mau ver.
Traziam consigo a natureza de mãe que me não pariu
mas vincaram-me o legado deste ser de mim.
Feita desta feita só hoje me reconheci
este mim que hoje faz ver-se com outro olhar.
Perguntaram-me ventos do sul de onde és
e os do norte o que és afinal
e a todos respondi o que o pai do norte me ensinou:
Não!"Não me digam mais nada senão morro
aqui neste lugar dentro de mim
a terra de onde venho é onde moro
o lugar de que sou é estar aqui...!"
assim com o verso do soneto presente que me alimentou me aquietei
Eis então que os olhos e as bocas do sul se escancaram
e de esguelha me encurralavam perguntando
E quem és afinal? para onde vais? o que esperas tu?
e a todos respondi o que o pai do sul me ensinou agora com o recado da alma de ventos do norte:
o que quereis vós, que alvíssaras vos hei-de dar?
"Não me peçam sorrisos ... as honras cabem aos generais...
...num novo catálogo, mostrar-te-ei o meu rosto
coroado de ramos de palmeira, e terei para ti os sorrisos que me pedes"
Assim feita de dois pais a par, ary e neto se colaram
em almas feitas cravos rubros em chamas de sul
deixando recados selados sagrados de almas gémeas
"...Aqui ninguém me diz quando me vendo
a não ser os que eu amo os que eu entendo
os que podem ser tanto como eu", pois é assim chegada a hora "...de juntos marcharmos corajosamente para o mundo de todos os homens"

Excertos de poemas:Ary dos Santos e Agostinho Neto

é (sempre) tempo



Minha laranja amarga e doce
Meu poema feito de gomos de saudade
Minha pena pesada e leve
Secreta e pura
Minha passagem para o breve
Breve instante da loucura
Minha ousadia, meu galope, minha rédia,
Meu potro doido, minha chama,
Minha réstia de luz intensa, de voz aberta
Minha denúncia do que pensa
Do que sente a gente certa
Em ti respiro, em ti eu provo
Por ti consigo esta força que de novo
Em ti persigo, em ti percorro
Cavalo à solta pela margem do teu corpo
Minha alegria, minha amargura,
Minha coragem de correr contra a ternura
Minha laranja amarga e doce
Minha espada, poema feito de dois gumes
Tudo ou nada
Por ti renego, por ti aceito
Este corcel que não sossego
À desfilada no meu peito
Por isso digo canção castigo
Amêndoa, travo, corpo, alma
Amante, amigo
Por isso canto, por isso digo
Alpendre, casa, cama, arca do meu trigo

Minha alegria, minha amargura
Minha coragem de correr contra a ternura
Minha ousadia, minha aventura
Minha coragem de correr contra a ternura (2x)

no inferno e o que os olhos vêem

Depois do filho ter chegado a casa indignado com a discussão que assistiu em torno do inferno não pude deixar de ficar de algum modo apreensiva com as imagens que o jornalista hoje nos apresentava.
Tenho receio de haver a possibilidade de vermos e não ouvirmos o comentário àquele cenário quase irreal.
Oh mãe, chegam a ser insensíveis e dizem até que não merecem a nossa solidariedade,
lutam umas com as outras... tornam-se frias... é o argumento
Lembrei-o do único exemplo que me ocorria para aquele quadro que pudesse demover os outros daquela confusão de sentimentos e fi-lo pensar no que o saramago bem retrata sobre desumanização face a situações de limite no ensaio sobre a cegueira.
Temos que ser solidários sim.
com a dor, no horror. o desespero, a desesperança e sobretudo com aqueles a quem roubam até aquilo que os faz segundo nós, humanos.
Era no fundo o que li ou(vi) nesta nota do apontamento jornalistico de hoje, a legendar os quadros de pilhagem. Mas receio mesmo que muitos se fiquem pelo que os olhos vêem e hoje gostava muito que se pudesse só ouvir.

hoje com o meu pequenino

hoje trouxeste-me um bálsamo sagrado escondido na algibeira
trouxeste contigo o doce quente de permanentes verões
deixei-me levar assim que coseste aos meus os teus olhos feitos botões de luz
e o dia durou anos de festa com janelas escancaradas em direcção ao sol
relembraste-me o festejo da vida
então fiz-me pequenina para acompanhar os teus passos
e continuei até que não houvesse mais folegos de gargalhar
mas é sempre assim quando estas aqui meu tesouro


Apenas se vê bem com o coração.

O essencial é invisível aos olhos.


.in "O Principezinho"

de Antoine de Saint-Exupéry

Porque é hora de sophia

Hora

Sinto que hoje novamente embarco
Para as grandes aventuras,
Passam no ar palavras obscuras
E o meu desejo canta --- por isso marco
Nos meus sentidos a imagem desta hora.

Sonoro e profundo
Aquele mundo
Que eu sonhara e perdera
Espera
O peso dos meus gestos.

E dormem mil gestos nos meus dedos.

Desligadas dos círculos funestos
Das mentiras alheias,
Finalmente solitárias,
As minhas mãos estão cheias
De expectativa e de segredos
Como os negros arvoredos
Que baloiçam na noite murmurando.

Ao longe por mim oiço chamando
A voz das coisas que eu sei amar.

E de novo caminho para o mar.

Sophia de Mello Breyner Andresen

deixar correr o marfim

de novo o tapete verde estendido na sala
a tentar prender todas as atenções

e desta não foi propriamente, mais uma forma certeira
de deixar correr o marfim
esta foi amplamente, e a meu ver
a contragosto de muitos,que a faziam ligeira,
uma empresa de longe, carregada de emoções

enquanto algo maior acontecia,
lá ao cimo no mayombe
mais abaixo e numa outra dimensão,
algo de novo se fazia anunciar,
agora já com uma outra intenção
a perder enfim a atenção
de jogadores(de bancada)decerto mais distraidos

de novo o tapete verde estendido na sala
algo novo em travo amargo, desnunado de direito,
contrafeito, a contragosto e a descompasso
de novas eras de mudança
vestidas com frescas matizes de esperança

desta feita certamente, e sem grande inspiração
na contradição, revolução, constituição
vão encarnar o fado negro e deixar correr o marfim

que gana!

hoje há jogo.
eu sei.
e não vai ver?
ia-lhe explicar mesmo que desconsegui depois daquele dá e leva, e nem mesmo depois do empate reclamado pelo mali...
e a mãe sabe que jogo é que é?...
e aí fui fui logo na defesa e tal, que era quartos de final e que estava tudo nos blogs e tal que mais, até davam as notícias frescas, com ar de quem está mesmo por dentro dos assuntos.
até estava mesmo. nos assuntos da nossa lavra temos mesmo que estar atentos...
depois ía espreitando o longo caminho de tempo interminável que não abria espaço para entrar o nosso um.
e não entrou. a cada não!!! do ainda não foi este, até aquele desviado no último segundo que me levou de novo à escuta, terminamos.
filho fomos roubados?
não mãe... jogaram bem.
nem há descontos nem nada, nem prolongamentos...
não mãe já acabou.
que gana!

desculpa, mas não consigo aprender a tua força

sabes o que mais me custa?
não conseguir ter-te nos meus braços
não poder o impossível de te trocar no espaço.
aquele que existe entre ti e mim
o que faz de ti primeira e que fez de mim gente
custa-me não poder embalar-te, mimar-te e dar-te colo
então, resta-me aninhar-me e fazer-me pequenina
enroscada às tuas raízes
afinal é assim que fico realmente diante da tua grandeza.
acreditas que enquanto a ciencia procura em contra relógio
atalhos de retrocessos do caminho
para recolorir mais um dia que te pertence
enquanto se te descola a pele das tuas entranhas
eu procurava nos devaneios de escape da dor
um nome de uma árvore que te acentasse bem, acreditas?
a mulemba pereceu-me a eleita embora a acácia rubra
também estivesse neste rol de absurdos insanos.
nos intrevalos em que o teu corpo faz com que pensem que dormitas
embora estejas só a recuperar para mais um folego de estrada,
olho-te bebendo-te sofregamente os momentos presentes
e penso que não posso encontrar o nome da tua árvore
ou da árvore que serias tu, simplesmente porque és aquela
que um dia dará o nome à árvore, ao ser, ao corpo
que de alguma forma se possa assemelhar a ti.
és única mãe.
desculpa, mas não consigo aprender a tua força.
fica comigo mãe, está tudo escuro.

ouvi dizer...

ouvi dizer,
"é o mambo que estamos com ele...
palancas até ao fim"
agora é só levantar a cabeça
e embora a sério quisesse dizer
não substimes o inimigo
só que me apetece sempre brincar com estas dores
e dizer que bom anfitrião
sabe dar e receber,
literalmente
vamos lá dar a volta a isto

yes we CAN

ageitei-me bem no banco para tentar ficar um pouco mais confortável.
afinal, a viagem tem que continuar, entre emoções.
é a única maneira de traduzir com sentimento e elegância os solavancos como lhe chamaria a mãe.
tento ver o que me está a incomodar mas a almofada até é de sumauma e nem sei porque me queixo. se calhar é daquela que está por baixo e que não dá para perceber logo, e que ainda é de palha. embora bem remexida para ficar mesmo fofa bor baixo do riscado camões que lhe dá forma, prega-nos sempre partidas com dores nos viongos.
há-de haver sempre um toro na palha de milho a incomodar.
desde ontem que me acompanha esta tristeza, com um misto de frustração. porque teríamos que merecer isto? porque teria de acontecer. fui-me tentando manter informada e ouvir opiniões. consternação é a palavra que pode traduzir o estado de espírito dos que me acompanham. andei desde o morro da maianga até à kianda, à bela, ouvi todos os mujimos.
feriram-te mãe terra no coração do mayombe.
é assim mesmo entre emoções. da euforia à tristeza. não podemos dosear. há mesmo que acelerar nas rectas e abrandar nas curvas, mas temos que continuar a viagem.

o meu cajado | das cantigas de escárnio e maldizer

se o símbolo do meu poder
estiver no meu cajado
então este será o prolongamento do meu braço
irei pois morrer com ele
ninguém o tomará de mim

para o defender
tomarei o teu castelo
percorrerei montes e vales
desvastarei e arrasarei quem se atravessar no caminho
em nome de um deus desconhecido
que desflorou donzelas
reprimiu irmãos,fez escravos, conduziu soldados
dizimou nações
e não protegeu os seus filhos
mas que orgulhosamente defendeu a instituição sagrada

para ser perfeito
vou chamar-lhe um nome
que honrarei e defenderei a todo o preço
à dignidade e o direito de o usar exigirei zelo
não o deixarei em mãos alheias

direitos fundamentais com a mayer

ontem derrubei um muro
cheguei à conclusão que era apenas de areia
era feito de PRECONCEITO.
depois de vários revés
munir-me de armas e ferramentas para fazer face à situação
peguei num pequeno instrumento que era feito de DIREITO.
fiquei então confudida senão mesmo comigo desapontada,
se os meus altos valores não me traíam
deveria ser o primeiro, senão o único que deveria ter usado.
com muitas explicações introspecções, acatos e desacatos
à volta daquela questão,
cheguei à simples conclusão que todas elas andavam
em torno de um (turbilhão)palavrão, a que chamamos CONCEITO.
Então todo o ruído, toda a diversão andava à volta do conceito
foi afinal tão simples... tão claro... e esclarecedor...
ontem aprendi a lição apenas de uma diferença, entre uma questão de direito e uma questão de conceito e que fazem a sentença.

Quero-te por ao colo querida

Quero-te por ao colo querida,
continuar a embalar-te nos braços
afagar a carícia dos teus caracóis enleados
de ondas de venturas e vitórias
com matizes de desassossegos e desesperanças
que repousam e se enlaçam nos contornos do meu seio
e acordam no meu espaço da alma ainda enferma
Asseguro-te que estarás segura
poderás balançar-te, jogar sortes à sorte
calcorrear caminhos quase de olhos fechados,
asseguro-te que estarás segura.
Mas quando te dou o espaço da tua altura
a que tenho na mente não corresponde à tua medida
medes-te muito acima da que tenho ao colo
assim não podes caber mais e eu não me conformo
porque te sinto leve no espaço da minha alma.
Quero-te por ao colo querida,
mas tenho que te deixar seguir.

o verde é sorriso porque é feito de sol e de mar

o verde é sorriso porque é feito de sol e de mar
de cores combinadas de luz e odores
o verde é sorriso porque a esperança o abraça
e se ata ao desejo vestida com cores de luares
porque os luares sabem a paixão
e a paixão nos devolve e envolve na esperança
de volta aos lugares de sonhos de cinzas azuis feito verdes
fundidas no desejo da fluidez quente de sois
assim me vejo de paleta em riste
contorcer e combinar as formas e vontades minhas
aperfeiçoar a arte de esculpir caminhos
e em estradas de cores ouço murmúrios de verdes
que lentamente sobem ao tom de baladas de sol e de mar
que compus para mim enquanto espero
o verde é sorriso porque é feito de sol e de mar

desabafo

agora percebi a clausura
e desatei a escrita
ficou tudo mais claro
no verdadeiro sentido.
dou por mim às vezes no escuro
num emaranhado de teias
e tenho medo
tenho medo quando me falta a escrita
quando a mente escurece e fica em branco
eu sei
sei que o escuro branco me assusta
castra, trai e tolhe
então procuro seguir a luz
pisar as brasas do caminho e seguir
vou subir as mãos vazias
não as deixarei cair

hoje com sofia, Poema

Poema

A minha vida é o mar o Abril a rua
O meu interior é uma atenção voltada para fora
O meu viver escuta
A frase que de coisa em coisa silabada
Grava no espaço e no tempo a sua escrita

Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro
Sabendo que o real o mostrará

Não tenho explicações
Olho e confronto
E por método é nu meu pensamento

A terra o sol o vento o mar
São a minha biografia e são meu rosto

Por isso não me peçam cartão de identidade
Pois nenhum outro senão o mundo tenho
Não me peçam opiniões nem entrevistas
Não me perguntem datas nem moradas
De tudo quanto vejo me acrescento

E a hora da minha morte aflora lentamente
Cada dia preparada

Sophia de Mello Breyner Andresen