despedidas

agora com o caderno novo já me pude dar a certos luxos.
fui.fui ao ponto de encontro. hora marcada e tal. até demorou um pouco e eu já estava a ficar impaciente.
foi bom ver as coisas iguais do mesmo sítio e com as mesmas personagens com um rosto completamente diferente.
elas eram iguais ao que eram, certo?...
então eu é que estava mudada,era isso.
vi-as num outro plano. movimentavam-se num espaço fora do meu.
estranho não é?
ouvi pedaços de conversas, pedaços de encontros, de risos e espasmos insanos.
à hora certa os actores tomaram os seus lugares;
alguém no guichet encaixava, ordenava com o olhar os objectos de sempre à venda e tentava reconhecer outro alguém entre os presentes a quem pudesse impingir a mercadoria.
alguém era posto na ordem porque estava fora da ordem do caos normal.
muitos aguardavam junto a mim do lado de cá o mesmo que eu, e eu não estava entre eles. o ambiente tornava-se neste repente iluminado apesar do dia cinzento este outono tinha roubado toda a luz ao verão. assim se explicava a pouca claridade do espaço há uns meses atrás, naquele mesmo espaço onde já não velavamos os corpos inertes da urna ao meio da sala.
esta tinha sido substituída pela peanha antiga mas bem envernizada onde objectos de arte ganhavam agora vida.
finalmente, a passo firme dirijo-me para a eliminatória.a fase final deste concurso da vida.
passei.
foi uma vitória. disse depois aos filhos. obrigada.
não, mãe. não tem nada que agradecer. deve-o só a si.
estava emocionada.foi uma batalha.
despedimo-nos com um aperto de mão forte.
bom natal.disse-me. boas entradas, um bom ano.
vêmo-nos no início de fevereiro.