esperanças

desalinho, faço, desfaço e reinvento
desafio-me sem me atropelar, num espaço vivo de esperanças.
tenho um caderno de folhas de vida a cheirar ainda a novo
então, pego-o com o cuidado, vejo-o e revejo-o vezes sem conta,
cheiro-o, aperto-o e aconchego-o ao peito, com ambas as mãos,
descanso a cabeça e adormeço finalmente deleitada.
agora já posso sonhar comigo.

em pleno

em pleno, num desafio maroto,
sigo bamboleante
no desfile desta passerele da vida.
olho nos olhos a multidão de gentes como eu,
reencontro-me e mostro-me sem receios.
afinal de contas, são apenas réplicas de vozes
muitas vezes caladas pelo amargo dum não vale a pena,
dum faz de contas que não foi, ou tanto faz,
sigo como quem ousa, cria e recria,
marca, desmarca e diz não.
não, não quero mais passar em negro,
não quero mais dizer que sim, porque sim.
abafar a voz do corpo que grita por socorro
e se desprende da mente paralisante do branco dos receios,
que repetidamente lhe recusa os passos
e teimosamente tolhe a razão.

esperança com cheiro de acácias


OMANU VALISANGASANGA!
Sabedoria ovimbundu: Olomunda ño ovio kavilisangi; omanu valisangasanga!
Em Kimbundu: Mulu li mulu kalisange; muthu li muthu alisanga!
-Apenas as montanhas não se cruzam, as pessoas cruzam-se sempre!

hoje no corredor encontrei-te.gostei de te ver,
sempre, o irradiar da tua bagagem
plena, prenha de sabedoria.
trouxeste-me a montanha feita presente em tamanho de encontro
grande e forte intensa de memórias
a lembrar aquela esperança com cheiro de acácias só minha,
aquela que me faz dizer que sei mesmo que nos vamos cruzar.
agora, apeteceu-me partilhar com aquele alguém.
aquele alguém que sabe que é quem é,
e que hoje num dia seu especial vai-me sentir.
agora, agora vou ficar quietinha,
à espera da minha grinalda de bunganvílias.

o meu berço, Viyé (Bié)

estava no cantinho do pensar e falar angola
a ngola do viyé que o carranca me trouxe.
o princípio dos céus e a jóia das águas
que do cunene o melhor nos trouxeram.
ngalangi pela grandeza do acontecimento que nos reflecte,
viyé e as boas novas de tudo o que virá,
Viyé e Ngalangi, mãe das raças do norte, pai das gentes do sul
de cabinda ao cunene,
ngola vens de ngalangi

O mito Ngalangi

Segundo os dados de que dispomos, a lenda sobre a origem do mundo foi recolhida por Keiling (1934) e mais tarde retomada por Child (1964).


A tradução de Luís Keiling é a seguinte: " Um dia caiu do céu um homem que teve o nome de Féti, que quer dizer o princípio. O bom do homem deu em percorrer a terra e notou que, havendo muitos animais, se encontrava um só homem, que era ele. Que aborrecimento e enfado sentir-se tão só no meio dessa criação! Para ver se espairecia, lembrou-se de ir ao Cunene para caçar um pouco. Pega, pois, nas armas e vai em busca de um hipopótamo, que lhe fornecesse carne e gordura. Horas esquecidas esteve Féti à espera de uma peça de caça, quando em vez do suspirado animal vê surgir das águas uma forma humana, muito semelhante a si mesmo: era a primeira mulher a quem denominou Tchoya, que, derivando do verbo okuoya, quer dizer enfeite, ornato, perfeição. E tão bela, tão garrida a achou o nosso Féti que dela se enamorou e com ela fundou a primeira família que pela luz do sol foi alumiada. Passaram dias, passaram meses, e numa bela manhã foram os ecos da mata despertados pelos vagidos de um novo ser, que viera albergar a habitação do felizardo Féti. Não houve ave do céu, nem animal da floresta, que não viesse dar aos pais os parabéns por tão bom acontecimento. Encantados, impuseram os progenitores ao recém-nascido o nome de Ngalangi. Passaram tempos, e eis que em casa aparece um novo bebezinho, desta vez uma menina, a quem chamaram Viyé. Viyé, provém do verbo okuiya, que em português se traduz por vir. Queriam os pais significar que aquela filha havia de chamar a si as populações e ser o tronco de uma grande família. E Viyé veio a ser a mãe das raças do norte, isto é, das terras do Bié, enquanto foi o pai das gentes do Sul. Assim contam os ngalangi e terminam por afirmar que deles descendem todos os habitantes do Bié,Huambo,Sambo, Cuíma e Caconda".

entretida a fiar

estava mesmo entretida, como que a fiar.
foi assim que me vi. sentada na roca a fiar.
não deixarei que me sangrem os dedos.
de forma delicada e aproveitando a calmia dos dias deste estado de alma que agora me acompanha, fiarei.
fiarei até que do fio se encha o rolo,
e do rolo ainda me sobrem forças de tempo,
para tecer.
Das cores me ocuparei com as que a terra me invadiu (em)a vida.
quentes de volúpia e desassosego
fortes de paixão, negras como o veludo doce da paz.

onde escondi os pedaços de memória?

vieste com o sol ainda quente e foste com a chuva. fizeste-me bem. gostei da presença serena. da ternura quase feminina. foste simpático e correcto, gentlemen, polie. no fundo, amigo mesmo. estavas era "roto" de cansaço de calcorrear os caminhos a vender sonhos iguais aos da menina que trazias debaixo do braço, e me mostraste embrulhada em folhas de papel feito livro para as crianças e grandes que te ouvem por todo o lado, chegando mesmo a cruzar o oceano. aquela menina que vendia sonhos e encontrou o seu príncipe. o poeta mudo.
sabes que já comecei a colar no espaço os pedaços de memória? resolvi parti-los aos bocadinhos. acho que dá para saborear melhor. pensei depois de os olhar assim mesmo de relance. parecia tudo tão longo que não dava para apreciar... já me faziam falta amigo... na realidade cheguei a amaldiçoa-los por se terem afastado de mim tanto tempo. era como se uma parte de mim se tivesse apartado.
agora prometi-me. assim mesmo. aos pouquinhos, vou desenrola-los um bocadinho de cada vez e colando até acabar. fica dentro da viagem na mesma, mas noutro cantinho da carruagem.

amanhã, talvez um dia...

de olhos cemicerrados imagino a dança ondulante num espaço inexistente. corpos colados esquecidos do tempo do mundo. vagueamos apenas completamente alheios aos coros de vozes inquisitórias dos costumes. e como se nessa esfera estivessemos completamente imunes aos golpes de luz que nos fazem visíveis e nos obrigam a simular uns passos mais arrojados ou titubeantes. apenas queriamos estar. saborear o toque e inalar o duplo odor deixando-o completamente confuso ao retirar-lhe a identidade. quero continuar. reinventar-me descolada deste mim e num não existir de olhos vigilantes da consciencia. agora quero mesmo continuar a dança...
amanhã, talvez um dia, vejo-me contigo a tocar para nós uma sonata a quatro mãos.

a visita

estava sossegadinha quase enroscada no banco,encostada ao vidro a tentar não adormecer no quente morno do entardecer. acho que já estava mesmo a dormitar apesar dos safanõesinhos de devez em quando a fazer-nos olhar melhor a paisagem. desculpa canhanga mas acordaste-me. mas ficas tanto tempo sem me visitar, e agora vens assim de repente sem me avisar? eu tinha ficado só com aquela recordação do Umpulo do velho nos tempos de ainda muito jovem a acompanhar as crianças do senhor da loja em frente à administração. sabes que ninguém esquece o mais-velho? ele habita na vida de todos aqueles que preencheu e amou. depois, misturas-me nos sonhos alheios que nem ouso fazê-los meus. sabes que te podes tornar cúmplice de um salto? e sem rede? e que depois nem a coroa de bunganvílias me esperam e não vou ter como voltar?
e agora? dispo-me de faz-de-conta ou a sério? agora fizeste-me mergulhar no verde fundo a pensar no cheiro do mar. é que as lágrimas são mesmo salgadas. não, não são de tristeza. são daquelas silenciosas que se alimentam do estado do espírito e desgovernam o nosso eu que teima ser como deve ser.

saltar o muro

quero saltar o muro. deixar para trás o quintal que jaz putrefacto de sonhos mal sonhados. saí ilesa envolta numa escuridão de luz. deixei para trás as trevas brancas leitosas de uma cegueira inocente arrastada por esperanças de muitos amanhãs. às apalpadelas te procuro à espera que estejas do lado de lá adiando apenas a partida, na esperança de não ter que voar sozinho. agora que cheguei aqui, fico entre o impulso insano de saltar sem rede e receber uma grinalda de sonhos de bungavílias e a ideia de cristalizar colada ao muro até com ele me confundir na escuridão branca dos silêncios.

a corrida ao ouro e a montanha da água lilás

estava cheia de preguiça de descer nesta paragem. mas tenho que ter coragem. é que a bagagem é demasiada. tanta coisa arrecadada durante esta jornada que se torna difícil segurar, arrumar ou até estabelecer prioridades... afinal o que é que eu entrego primeiro? ou o que deixo em primeiro lugar? às vezes torna-se-me muito difícil.
o bebé começou a andar. é a primeira prioridade,claro está. mas é a carga mais pesada porque para a depositar é necessário embrulhá-la com muito cuidado, sobretudo muito carinho. um presente de festa que merece toda a atenção.
depois, uma imagem linda da cascata cor-de-rosa... porque é que eu a vejo assim? não é nada, é a montanha de água lilás. agora até a vejo acocorada por debaixo de um arco-iris. ainda não a bebi mas tenho cá uma vontade, que me apetece largar tudo e ir a correr buscá-la.
"é tão simples, um livro de bolso e custa aí à volta de cinco euros, parece infantil, mas não é. e depois tem personagens curiosíssimas com um nome... deixa lá ver se me lembro...." e não se lembrou, pois disse uma palavra engraçada que depois me fez rir quando eu descobri que eram os lupis, lupões e jakalupis. na verdade quero saber o que acontece aos poetas e sonhadores nesta trama. provavelmente saberei pois a vida bem me tem revelado, mas fico sempre curiosa ou talvez seja uma forma de ao rever-me aceitar melhor a minha crosta.os outros já sabemos como se besuntam todos nestas coisas da corrida ao ouro.

"Só quem tem uma mente aberta sabe julgar de forma objectiva"

Hoje colei aqui esta blogada do Penim porque gostei mesmo.
convidou-me até a responder. parece coisa complicada não é? mas aqui neste espaço como os comentadores não têm que ser credenciados, referenciados ou "cunhados" eu até me tenho atrevido, para mim tão só num exercício de escrita, a comentar.

Citação de Outono

Todos vivemos integrados em grupos diferentes. As crianças convivem com crianças, os adolescentes com outros adolescentes e assim sucessivamente, em todas as faixas etárias. Em muitas festas de conhecidos meus, os filhos ? mesmo que não fossem muito jovens ? não estavam presentes, tinham saído. Já para não falar dos grupos políticos e dos grupos étnicos. A sociedade é feita de barreiras, de silêncios, de indiferenças, de preconceitos.
Todos nós assimilamos os preconceitos do nosso grupo social, político e cultural: falamos apenas entre nós, lemos os nossos jornais e vemos os espectáculos televisivos que nos agradam. Quando nos deparamos com alguém que é odiado pelo grupo, a antipatia é imediata. O mesmo acontece com os livros e com os filmes, que nem sequer são investigados, mas logo descartados. Nem sempre lemos bons livros nem vemos excelentes filmes: seguimos cegamente as indicações do nosso grupo.
Mesmo assim, acontece conseguirmos libertar-nos desta escravidão do preconceito e, por instantes, abre-se-nos a mente e temos coragem para falar com esta pessoa, ler aquele livro e ver o filme que rejeitámos. E acabamos por constatar, estupefactos, que encontrámos algo de belo, interessante e divertido. Abre-se-nos uma perspectiva nunca antes imaginada.Só quem tem uma mente aberta sabe julgar de forma objectiva.

Francesco Alberoni, IONLINE, 06.10.2009

Terça-feira, Outubro 06, 2009

Publicado por F. Penim Redondo
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Hora da publicação: 07:45
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e foi assim:

gostei. afinal de contas a questão é começar pelo núcleo familiar. estava aqui a pensar. não passa só pelos aniversários casamentos, baptizados. mas tenho tido o hábito, e desde há muito que me lembro que é assim com a nossa família. convivemos entre netos e avós, pais filhos, primos e tios muitos. e foi um legado que passei aos meus filhos. e onde felizmente já incluí o meu neto que chegou há quinze meses e já participa. e vai ser assim sempre. comunhão intergeracional e multicultural convenhamos. não estou a falar de tom de pele, isso já se deixou para trás porque somos todos bem coloridos, mas de culturas diferentes. a dar e receber bem, entre moambas e cozidos à portuguesa passando pelo chacuti e a pasta... kizombas e corridinhos, valsas,tangos e marrabentas. tão simples que subrescrevo Alberoni hoje e sempre.

coração de mãe

recebi esta mensagem fresquinha
trazia a mãe embrulhada lá dentro e a mim também
e a todas a mães do mundo que têm um cordão preso ao coração.
soube-me tão bem, que me senti a flutuar e toda eu fiquei reduzida a coração.
peito redondo, vermelho, feito em dois gomos inchados de paixão.
ainda lhe sinto o sabor.
a leitura, trouxe-me a mana hoje ainda com o coração dorido duma ferida recente.
mas estava tão feliz com este bouquet, que não aguentou em partilhar.
então resolvi partilhar convosco uma das coisas mais bonitas que li sobre o coração de mãe.
bem, na verdade foi ontem, que recebi a mensagem e estive, vejam lá, até agora, a fazer caber aqui uma mensagem em power point. e na realidade não encaixa. após várias tentaivas frustadas congelei-a nos rascunhos e agora resolvi retirá-la e partilhar convosco.
eu digo na mesma sem o power point, espero que fiquem com uma ideia. depois, podem encontrar este miminho no livro do planeta tangerina. é da dupla Isabel Minhós Martins e Bernardo Coelho. Começa e termina mais ou menos assim:
"afinal o coração de mãe não é só um músculo que bate sem parar...
é um lugar mágico onde acontecem as mais extraordinárias das coisas"...
depois o coração gela, dança, fica aos pedacinhos e às pintinhas... delicioso.

um novo conceito


as coisas que ainda podemos aprender num cabeleireiro.
não foi em conversa. claro que não. estava a folhear uma revista, e não daquelas de há dois anos atrás. encontrei esta autêntica revolução.
espreitem o link.www.sheer.it é mesmo um novo conceito.

claro que chorei, confesso

claro que chorei, confesso.
de alegria, sim. Não consegui evitar. estava aq falar com a mana e tocou o moche. é o meu comunicador com o filho mais velho. então filho?
senhor doutor faz favor! retorquiu.
não me consegui conter e os risos atropelaram-se com soluços e meias frases meio desconcertadas. quando a mana se formou eu não chorei... desculpa mas parecia tudo tão óbvio nela, que injusto não é? e tão cedo filha.
obrigada filhos. eu acrescento sempre; e foi no ISCTE e na clássica! na pública! (ainda não sei o que terei contra as privadas...),parece que as públicas me soam a prestígio exigência,essas coisas...
olha filho, é que para vocês, quero o melhor do mundo.
agora falta o jojoka.